domingo, 3 de abril de 2011

TOP 10- Vilões da Década (2000-2010)

Na última década o cinema nos presenteou com várias obras de rara beleza, quase clássicos instantâneos (como o ótimo Uma Mente Brilhante) e alguns outros que não atingiram muito bem seus propósitos (como a ode neo-imperialista disfarçada Avatar) . Uma coisa que não podemos negar foi a importância dada aos vilões durante estes anos: eles se tornaram cada vez mais complexos e imprevisíveis, tendo, muita vezes, mais importância na trama que os próprios protagonistas, conseguindo, assim, um espaço indelével nos corações e mentes dos espectadores. Ao meu ver, esses foram os mais importantes:

10- O Duque, de Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001)
Interpretado por Richard Roxburgh
    Com uma performance emblemática, Richard Roxbourgh incorporou a caricata figura do the Duke, no super musical Moulin Rouge, um ótimo vilão no que tange às clássicas histórias de amor impossível. Mostrando bem as duas facetas do personagem, ora com um ar mais naif, quase infantil; ora como um verdadeiro maníaco possessivo que quer, a todo custo, exercer seu domínio sobre a bela Satine (Nicole Kidman). Sem contar a nova interpretação que dada, juntamente com o também brilhante Jim Broadbent (Harry Potter e o Enigma do Príncipe), ao clássico pop "Like a Virgin" de Madona, mostrando, acima de tudo, que foi um ator bem versátil na construção de seu personagem. Uma das melhores atuações no filme de Baz Luhrmann (Austrália), mas que não conseguiu, como os demais vilões citados, ofuscar tanto as performances dos protagonistas.



9- Salim Malik, de Quem Quer ser um Milionário (2008)
     Interpretado por Azharuddin Mohammed Ismail (criança), Ashutosh Lobo Gajiwala (adolescente) e  Madhur Mittal (adulto)
     Apesar de seus momentos de redenção, como quando salva de seu irmão Jamal (Dev Patel) de ter seus olhos furados por alicidores de menores, certamente Salim é mais lembrado pelas ações reprováveis(e pelo fato de sua nobreza estar sempre no segundo plano de suas aspirações) que realiza ao longo do moderno conto de fadas de Danny Boyle (127 Horas). Durante toda sua vida, humilhou seu irmão das mais diferentes maneiras, desde a molecagem de vender uma foto autografada conseguida a um custo bem anti-higiênico até ameaçar a vida do mesmo, quando já estava trabalhando para os mafiosos dos slums de Mumbai. Com uma malandragem que seria bem recebida em qualquer rodinha de samba, esse encapetado indiano também é um importante contraponto ao romantismo e idealismo que permeia as ações de seu irmão: ele tem uma visão mais realista e maquiavélica de como vencer na vida.


8- Bill, de Kill Bill Vols. 1 e 2 (2003 e 2004)
 Interpretado por David Carradine
     O saudoso David Carradine (O Ovo da Serpente) nos presenteou com essa atuação de mestre, orientada por Quentin Tarantino. Bill é mais um típico vilão possessivo: atirou na mulher que amava (Uma Thurman) e tomou para si sua filha, como forma de se vingar do fato dela o ter abandonado sem nenhum motivo aparente. Odiado por muitos que ouvem seu nome, o enigmático vilão nos proporciona um dos monólogos mais deliciosas da obra tarantinesca, quando fala da diferença entre o Super-Homem e os demais heroís. Infelizmente não pudemos ver o discípulo de Pai-Mei desenvolver suas habilidades de luta à máxima potência: ele foi rapidamente derrotado pelo místico golpe dos Cinco Pontos que Explodem o Coração.


7- Lots-O', de Toy Story 3  (2010)
     Interpretado por Ned Beatty (voz)
     A Pixar sempre conseguiu desenvolver bons vilões, mas nenhum como o terrível Lots-O'. Marcado pela frase chavão "as aparências enganam", o urso cor-de-rosa com cheiro de morango esconde uma natureza terrível. Extremamente egoísta, após ser abandonado pela dona, chegou à Creche Sunnyside onde começou um reinado de horro, baseado em um totalitarismo e uma divisão de castas entre os brinquedos. Chega ao ponto de trair, em um momento de extrema tensão, aqueles que salvaram sua vida. Um vilão moralmente complexo e cegado pelo ódio, muito diferente daqueles criados para animações; ajudou Toy Story 3 a ser um ótimo gran-finale de uma série ímpar.


6- Zé Pequeno, de Cidade de Deus (2002)
Interpretado por Douglas Silva (criança)  e Leandro Firmino (adulto)
    Zé Pequeno foi um dos responsáveis por levar o gênero brasileiro favela movie a um patamar de prestígio internacional. Caracterizado por muitos criminólogos como típico exemplo das teorias positivistas do criminoso nato (uma pessoa que, pela sua própria natureza, tem tendências a cometer atos desviantes), demonstrou, desde criança, crueldade e megalomania ímpares. Isso o levou a buscar por toda sua vida o objetivo único de construir um império particular na universo microssocial onde vivia, a comunidade carente na Zona Oeste do Rio de Janeiro da Cidade de Deus; baseado não só no controle total do tráfico de drogas, mas também da vida de seus sofridos habitantes. Com frases de efeito que até hoje são repetidas à exaustão por fãs do filme, Zé certamente foi uma importante materialização da dura e violenta realidade carioca.


5- Coringa, em O Cavaleiro das Trevas (2008)
     Interpretado por Heath Ledger
   "Why so serious?" nos pergunta o insano personagem, retratado por Christopher Nolan (O Grande Truque) no máximo de seu niilismo e loucura, naquele que foi o maior Blockbuster dos últimos anos (muito graças a esse icônico personagem). Com uma psicopatia que tende ao infinito e um passado totalmente enigmático (que Nolan deixa a cargo da imaginação de cada um definir qual é), o Palhaço do Crime dos quadrinhos ganha uma roupagem definitiva com a perfeita interpretação do saudoso artista australiano, que lhe rendeu um Oscar póstumo. Ele desafia o super-herói Batman (Christian Bale) à revelar sua verdadeira identidade enquanto bota em perigo, em jogos mortais, a população inocente de Gotham City. Ele peita a máfia sem medo das consequência. Ele transforma o cavaleiro branco de Gotham, Harvey Dent (Aaron Eckhart) em uma igualmente psicótica figura, Duas-Caras, aproveitando-se de seu debilitado estado mental. Ele conquista o espectador de maneira arrebatadora.


4- Daniel Plainview, de Sangue Negro (2007)
     Interpretado por Daniel Day-Lewis
    Em interpretação visceral, Daniel Day-Lewis (Em Nome do Pai) criou esse icônico personagem, a materialização da ausência de humanidade, em uma interpretação verdadeiramente visceral, e que lhe grantiu seu segundo Oscar. Daniel é um grande explorador de petróleo que vê no seu pragmático trabalho a única forma de se afastar do restante da humanidade, de se tornar superior aos seres sujos que para ele trabalham. Seu pragmatismo e ganância são tão grandes que ele simplesmente não se preocupa com os problemas à sua volta, mesmo se esses envolvam seu filho; cuja relação fria e digamos, de certa forma, empresarial (ele é ,antes de tudo, seu sócio) era um dos poucos resquícios de sua humanidade e que acaba quando este último é acometido por uma surdez. Seu embates com o performático pastor Eli Sunday (Paul Dano, excelente) também são outro ponto alto do filme, desenvolvendo de maneira violenta o eterno combate entre os poderes temporal e atemporal.


3- Anton Chigurh de Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)
Interpretado por Javier Bardem
       Esse suspense só é obrigatório pela presença desse icônico personagem. Na sua perseguição implacável em busca do dinheiro dos traficantes de droga na fronteira entre México e EUA, Chigurh é o verdadeiro mal irrefreável, nada nem ninguém pode deté-lo para alcnaçar esse objetivo; sejam traficantes, policiais ou até mesmo uma fratura exposta. O personagem exala insanidade pelos seus poros e seus atos aumentam e muito a tensão desenvolvida ao longo da trama. Munido das mais diferentes armas possíveis, ele realmente sabe como fazer uma vítima sofrer. Normalmente calado e inexpressivo, Chigurh é o retrato definitivo da psicopatia: frio, sádico e calculista. A interpretação de Javier Bardem (Mar Adentro) é extremamente verossímel e monstruosa, e ainda lhe garantiu o mais que merecido Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.


2- Capitão Vidal, de O Labirinto do Fauno (2006)
   Interpretado por Sergi López
     O ator espanhol Sergi López ganhou renome internacional ao interpretar o terrível Capitão nesse moderno conto de fadas que trabalha com o clássico tema do confllito entre os horrores da guerra e a inocência. Vidal é a personificação do totalitarismo que defende: frio e despótico são características que certamente fazem parte de sua natureza. Porém a crueldade e um certo sadismo são suas marcas registradas. Seus atos horrorizam não só os demais personagens do filme como também ao espectador: tortura, execuções a sangue frio (inclusive de sua enteada), e covardes; atos desempenhados sem um pingo de moralidade são  constantes ao longo da narrativa. O personagem, por isso carrega uma aura de tensão e imprevisibilidade: não se sabe qual a próxima crueldade que ele vai cometer; sua figura fria gera medo a quem tem forças para encará-la de frente. Um personagem brilhantemente lapidado por um excelente roteiro e potencializado por uma atuação única.


1- Coronel Hans Landa, de Bastardos Inglórios (2009)
     Interpretado por Christoph Waltz
       
   "THAT'S A BINGO!". Antes de Hans Landa nunca houve coronel nazista que conquistasse a empatia do público. E nem depois dele! Após ouvir depoimentos que muitos torceram por ele, mesmo sabendo de sua alcunha de "Caçador de Judeus", não haveria como eleger outro vilão da década para ocupar o posto mais alto neste Top 10. Extremente carismático e desenvolto, Landa nos conquista pouco a pouco com suas falas simplesmente épicas ao longo do filme, falas esses desenvolvidas em quatro línguas diferentes (inglês, francês, alemão e italiano). As cenas que o envolvem, por mais importantes que sejam para a trama, são carregadas de grande leveza com pitadas de tensão. Em algumas fica até difícil segurar o riso, seja pelo que ele fala, seja pelas suas expressões faciais variadas. Sua explicação sobre como consegue encontrar os judeus mais bem escondidos é um dos melhores monólogos da história do cinema. Mas como tão admirável figura pode ser um vilão? A resposta é que ele é um caçador de judeus extremamente frio e calculista, que não mede esforços para atingir seus objetivos. Mais vilanesco que isso, impossível

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