domingo, 11 de maio de 2014

Divergente (2014)- Girl Power

 O mais novo representante das adaptações de YA não decepciona, nos apresentando uma personagem principal forte e uma trama intrigante e inteligente, apesar de algumas falhas ao longo da projeção. 



Nome Original- Divergent


Diretor- Neil Burger

Roteiro- Adaptado do livro homônimo de Veronica Roth por Evan Daugherty e Vanessa Taylor

Elenco-Shailene Woodley, Theo James, Kate Winslet, Ansel Egort e Zoe Kravitz

Parte Técnica- Alvin H. Küchler (F); Richard Francis-Bruce(E) Junkie XL (TS)


Data de Lançamento: 21 de Março de
 2014, nos EUA

   



O sucesso inquestionável da franquia Jogos Vorazes como best-seller e blockbuster deu novos ares ao gênero da distopia sci-fi, principalmente ao aproximá-la de uma faixa etária acostumada a cultuar obras de cunho fantástico e sobrenatural. Obviamente, editoras e estúdios não ignoraram o novo veio de ouro que surgiu e logo posicionaram seus "mineiros" para explorá-lo. Veronica Roth e sua obra Divergente deram continuidade ao tema e o Estúdio Lionsgate, o mesmo que levou Katniss Everdeen para uma nova mídia, logo anunciou sua adaptação. A trama se desenvolve em uma Chicago futurista. Encontramos Tris Prior, membro da classe da Abnegação, que, em seu teste de aptidão descobre ser uma divergente, ou seja, que não se encaixa em nenhuma classe social, mas em todas elas, tendo o poder de se autodeterminar; o que a torna extremamente perigosa. Ao mesmo tempo em que busca encontrar sua verdadeira identidade terá que conviver com uma ameaça de golpe de estado que põe em risco não só a existência de todos os divergentes, mas também a sua família.



  Três são os méritos do filme: o primeiro, nos apresentar em seus momentos iniciais a lógica do universo em que vive a protagonista: uma sociedade estruturada em castas que garantem o seu funcionamento mecânico, na forma do clássico Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Temos a Erudição, os cientistas e intelectuais; a Franqueza, que exerce as funções de justiça; a Audácia, que garante a segurança; a Amizade, que trabalha nos campos; e a Abnegação, que tem o dever de servir a todas as outras, desempenhando, por isso, as funções executivas de governo. Explica também o funcionamento do teste de aptidão que define cada um, assim como o conceito de divergente, e começa a apresentar os traços iniciais da trama; um didatismo mais que necessário e normalmente ignorado. O segundo mérito, por sua vez, é não só desenvolver arcos narrativos recorrentes em aventuras infanto-juvenis como rituais de iniciação, romance, jogos entre os personagens dentre outros, mas uma trama dinâmica com questionamento acerca do poder da capacidade de escolha e do inconformismo. A protagonista é um interessante contraponto para a filosofia social de Facção antes de Sangue, mostrando que a individualidade, no fundo, é o que faz a sociedade melhor e que em nome do grupo podemos fazer as mais terríveis barbaridades. O próprio sistema de facções em si é questionado, afinal, sempre um grupo tentará suplantar o outro em nome do poder. Por fim, temos a protagonista forte: Tris é proativa, corajosa e inconformada; luta para ser o que deseja e pouco se importa com a opinião alheia. Mesmo a ajuda, quando aparece, é uma resposta positiva a sua força de vontade, é um incentivo para que ela continue a trilhar o caminho que escolheu. Ela é a grande força do filme, o que gera laços com o público e impulsiona a trama como um verdadeiro dínamo, tornando-a envolvente e por vezes, explosiva. Sua jornada torna-se a nossa também ao longo da película, e sua força para superar obstáculos nossa alma.

  Porém as vantagens param por aí. Em termos técnicos, tirando, obviamente, a boa direção de arte que logra muito bem a função de compor o universo, o filme é pouco ousado: a fotografia é bem básica, a edição ousa em momentos pontuais para retratar os diversos testes mentais aos quais a protagonista é submetida, a trilha sonora é pouco marcante e, em alguns pontos da produção é preterida por uma canção pop do momento, fazendo da cena um verdadeiro videoclipe. No que tange as atuações, Shailene Woodley encarna Tris com grande competência apesar de exageros dramáticos em algumas cenas; enquanto a excelente Kate Winslet faz uma vilã de respeito, gananciosa e obstinada. De resto, no entanto, temos um desfile de atuações pobres e com pouco brilho, destacando-se negativamente o inexpressivo Theo James, o interesse romântico da protagonista.


  Destacam-se, no entanto, as boas opções narrativas do diretor Neil Burguer, ao unir, de maneira orgânica e dinâmica aspectos clássicos do gênero e tons de crítica social que engrandecem a obra como um todo. Depois de um ano em que ficou evidente a crise das adaptações infanto-juvenis com os gritantes insucessos de Cidade dos Ossos, Dezesseis Luas e Ender's Game; Divergente dá uma sobrevida de qualidade ao gênero, sustentado apenas pelo já citado Jogos Vorazes, que já tem seus dias contados (seu final está previsto para ser lançado em novembro do ano que vem) Além disso, reforça a tendência da cultura pop contemporânea de valorizar as personagens femininas. Tanto no cinema como na televisão vemos um desfile de mulheres fortes que quebram com os antigos padrões a elas impostas: são inteligentes, sagazes, manipuladoras, vivas, independentes e, por vezes, saem no tapa melhor que muitos homens; e isso ocorre mesmo em gêneros cujo público alvo são os homens (como a Viúva Negra no recente Capitão América 2, ou Silvester Stallone, cada vez mais investindo em castings femininos para seu time de Mercenários podem exemplificar).Tris passa a integrar esse novo time time de grandes protagonistas, mostrando ser muito mais que um rosto bonito, mas dotada de uma personalidade ímpar e de um gênio forte. E apenas essa tendência do filme, apesar de todo seu conteúdo romântico, de afastá-la de Bella Swans e Princesas Disney (pré-Frozen), mostra que o Girl Power veio para ficar.

Nota: 8

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