segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Espetacular Homem-Aranha 2:A Ameaça de Electro (2014) - Fundo do Poço

Após um questionável primeiro filme, o amigo da vizinhança retorna. No entanto, o resultado não poderia ser pior e a pergunta persiste: qual a necessidade desse reboot?


Nome Original- The Amazing Spider Man 2: Rise of Electro


Diretor- Marc Webb

Roteiro- Adaptado da HQ homônima criada por Stan Lee e Steven Ditko por Roberto Orci, Jeff Pinkner e Alez Kurtzman

Elenco- Andrew Garfield, Emma Stone, Sally Field, Jamie Foxx e Dane deHan
Parte Técnica- Daniel Mindell (F); Pietro Scallia e Elliott Graham(E) Hans Zimmer (TS)


Data de Lançamento: 4 de maio de
 2014, nos EUA

 


A trilogia do Homem-Aranha de Sam Raimi começou muito bem em 2002, com um filme de origem dinâmico, bem feito e bem humano na medida do possível, alçando Tobey Maguire ao status de super-estrela de Hollywood, Kristen Dunst ao de musa e apresentando ao mundo o talento de James Franco, até então um ator desconhecido. O Duende Verde tornou-se um icônico vilão, assim como o beijo entre o herói e sua amada Mary Jane se tornou referência nos anais cinematográficos. Após bater records de bilheteria foi anunciado um segundo filme, lançado 2 anos depois. Embora a recepção por parte público tenha sido mais morna não se pode negar que o filme foi um grande sucesso. A história, mais voltada para os relacionamentos entre os personagens e a dificuldade de uma vida dupla rendeu aplausos da crítica especializada e garantiu um terceiro filme. E aí vieram os problemas: Peter Parker foi desvirtuado, três vilões foi um exagero, a história cheia de furos e, por fim, uma utilização péssima de Venom, arqui-inimigo do aracnídeo; renderam uma rejeição por parte dos especialistas e principlamente, com a popularização da internet, uma aberta reação popular de indignação com o fim de uma boa franquia em nome da ação desenfreada e de tramas e sub-tramas pobres. Mesmo assim, o retorno financeiro foi invejável e logo os produtores dos estúdios Columbia/Sony perceberam que uma continuação era inevitável. O que poderiam eles fazer? A fórmula estava desgastada; o elenco sem crédito algum; o antigo diretor, ridicularizado.

  Surgiu então o reboot, um restart geral na franquia: um novo filme de início com um novo vilão e um novo plano de fundo. O resultado: um filme com trama idêntica ao do primeiro só que bastante piorado em uma série de seus elementos: um vilão dúbio porém sem apelo, um herói depressivo e extremamente insosso, uma contraparte romântica chata, personagens secundários como o grande Tio Ben mal interpretados, e o único ponto de grande diferença, a trama envolvendo os pais de Peter Parker, totalmente desnecessária. Apesar dessa série de problemas o filme foi bem no box office. Uma continuação, obviamente, começou a ser filmada. Shailene Woodley foi escolhida como nova Mary Jane. Jamie Foxx, gabaritado com o Oscar, para ser o vilão. O que poderia dar errado? Bem, tudo.

  Assim como seu antecessor, A Ameaça de Electro repete os principais arcos dramáticos do segundo filme da trilogia de Raimi: um herói que não consegue levar seus relacionamentos à frente e se adaptar a vida dupla, tendo que optar por uma delas. As motivações de Peter Parker e os motivos de conflito com Gwen Stacy são os mesmos daquele interpretado por Tobey Maguire  e Kristen Dunst sem tirar nem por. E, assim como sua contraparte de exatos dez anos atrás, isso garante um ritmo muito lento ao filme, reforçado por toda a personalidade conflituosa e depressiva do protagonista interpretado agora por Andrew Garfield. No entanto, esse não é o único problema da película: os desnecessários 140 minutos, as motivações do vilão Electro lembram os filmes do Batman de Joel Schumacher, uma ridícula obsessão por ser querido e pela figura do herói; a motivação de Norman Osborne, uma repetição daquelas do Lagarto no filme anterior; Mary Jane, personagem necessário para a trama se olharmos o cânone do personagem em outras mídias, cortado sumariamente da versão final; a insistência ridicula na trama dos pais de Peter; o romance extremamente açucarado, os personagens secundários apagados; sequências de ação mal executadas com exagerado uso de slow motion e que mais parecem cutscenes de videogame, enfim... um resultado péssimo para uma franquia que já tinha atingido o fundo do poço.


A técnica do filme também deixa a desejar: a edição, especialmente das cenas de ação é mal feita, os efeitos por muitas vezes parecem ultrapassados e a fotografia deixa muito a desejar, com elipses exageradas. A trilha sonora assinada por Hans Zimmer tem lá seus momentos de acerto, mas na maior parte do tempo é uma verdadeira aberração. Andrew Garfield enquanto Peter Parker continua extremamente exagerado, depressivo. Mas basta vestir o uniforme vermelho e azul e os ares mudam para o de um verdadeiro herói: engraçado, divertido, seguro; mostrando que o ator, antes taxado de equivocado na verdade está penando nas mãos de um roteiro de péssimo gosto, acertando na triste construção de personagem que lhe foi concedida. Emma Stone, essa sim, um equívococo: melodramática, chata em cena, uma personagem esquecível. Jamie Foxx e Dane deHann os vilões, são verdadeiras caricaturas: exagerados, cômicos e sem nenhuma credibilidade. Sally Field é prejudicada pelo roteiro pobre. O único destaque nesse ponto é Paul Giammati, extremamente cômico. Pena que sua participação é apenas uma ponta.


Marc Webb mais uma vez mostrou-se um péssimo diretor para filmes de super-herói. A ação e aventura são preteridas em nome de cenas extremamente melodramáticas e monótonas; e quando elas existem no  são terrivelmente executadas. Cada minuto desse novo filme do aracnídeo gera no público um sentimento de saudosismo quanto aos filmes de Sam Raimi. Mesmo aqueles que como o humilde ser que vos escreve pensam que a referida trilogia "não era nada demais" começam a considerá-la o supra-sumo dos filmes de herói. Desde sua aurora esta nova fase na franquia pode ser considerada um terrível retrocesso no gênero: não muda muito dos filmes que lhe deram origem há 10 anos e consegue ser pior, pincelando aqui e ali elementos dos filmes dos anos 80 e 90 que nunca poderiam reaparecer em nenhuma obra moderna, devido aos conceitos lançados tanto pela Warner quanto pela Marvel independente nesses últimos anos. As perguntas de 1 milhão de dólares persistem: qual a necessidade dessa nova saga do Homem Aranha? Por que esse Reboot é a cara da trilogia dos anos 2000? Por que Sony/Columbia insistem nessa franquia do jeito errado? Por que não deram mais uma chance para Sam Raimi se redmir se o resultado está sendo desastroso? Isso nem Stan Lee pode nos responder. Esperemos que o Amigo da Vizinhança escale o poço em que foi jogado, e logo.



NOTA: 3

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