sábado, 2 de abril de 2011

Sucker Punch: Mundo Surreal (2011)- Trocando gato por lebre sem direito à reclamações

Durante a publicidade de seu novo filme, Zack Snyder nos vendeu a idéia de um filme de ação com muita pancadaria e mulheres belíssimas com pouca roupa. O resultado final foi diferente: além disso, nos presenteou com um filme inteligente e surpreendente, muito melhor do que a proposta anterior. 

Nome Original- Sucker Punch

Diretor- Zack Snyder

Roteiro- Original; escrito por Zack Snyder e Steven Shibuya

Elenco- Emily Browning, Abbie Cornish, Jenna Malone, Vanessa Hudgens, Jamie Chung, Oscar Isaac, Carla Gugino, Jon Hamm e Scott Glenn.

Parte Técnica- Larry Fong (F), William Hoy (E); Tyler Bates e Marius de Vries (TS)

Data de Lançamento- 25 de março de 2011 (Lançamento Mundial)



   O que é Sucker Punch? Uma mistura tresloucada de referências à cultura pop? Um anime/mangá live-action?  Um filme de ação com belas mulhers, como os trailers mostraram? A união de dois filmes de sucesso de dois diferentes e geniais diretores (falarei quem são eles no final da crítica)? A única resposta a todas essas perguntas é: um filme muito mais profundo do que parece ser. Antes de começarmos nossa viagem ao "Mundo Surreal", aviso que encherei o texto de Spoilers como forma de evitar novas manifestações injustas acerca do filme e para esclarecer possíveis dúvidas sobre seu enredo.
   O filme começa com um narrador desconhecido falando sobre anjos, as várias formas que eles podem assumir e como eles surgem do nada. Enquanto a voz nos elucida, vemos uma garota (Browning) em seu quarto, recebendo a notícia de que sua mãe acabara de falecer. Enquanto consolava sua irmã menor, um homem, o seu padrasto, abre o testamento da falecida e descobre que não receberia nada e, irritado, decide atácá-las. Nesse interim, a garota encontra sua arma e tenta matá-lo, porém acaba acidentalmente acertando sua jovem irmã. Ah, note-se que a ação dessa cena se desenvolve sem um único diálogo, fala ou narração: a música "Sweet Dreams", da banda Eurithymics e aqui cantada por Browning acaba por narrar os acontecimentos, um uso brilhante de metalinguagem.
Babydoll (Emily Browning), a protagonista
    Assim, a garota é levada para um hospício, onde descobre as verdadeiras pretensões de seu padrasto: ele subornou o responsável do mesmo (Isaac) para lobotomizá-la, o que só poderia ocorrer em 5 dias. A partir daí entramos na mente da garota. Ela imagina que está num bordel aonde tem que dançar para clientes e passa a ser chamada de Babydoll. Em cinco dias ela terá um encontro com o High Roller (Jon Hamm), com quem perderá sua virgindade e lá começa a pensar em formas de escapar. Assim, começa a amizade com quatro garotas: Blondie (Hudgens), Amber (Chung), e as irmãs Sweet Pea(Cornish) e Rocket (Malone); e tutelada pela cafetina e professora de dança Madame Gorsky (Gugino), que, na realidade é uma terapeuta que desenvolveu um método baseado na dramatugia para ajudar as crianças. Todos eles são comandados com mão de ferro pelo pervertido gigolô Blue, que é ninguém menos que o responsável pelo sanatório.
    Babydoll foi, então, obrigada a dançar. Porém algo de incrível acontecia enquanto ela fazia sua performance: os outros personagens ficam misticamente seduzidos pela dança; e o espectador é lançado para um templo budista coberto de neve no Japão feudal, aonde ela (vestida com uma fetichista roupa de colegial) encontra-se com um sábio (Glenn), que lhe diz quais items deve achar para sair de sua prisão: um mapa, fogo, uma faca, uma chave e um quinto item, um ideal misterioso; e depois fala para ela se defender. Aparecem então três samurais gigantescos armados até os dentes e começa uma cena fantástica de quebra pau, em que Babydoll derrota os três e ao final, volta ao bordel, como se tivesse apenas terminado de fazer aquilo que foi mandada.
Rocket (Jenna Malone), Sweet Pea (Abbie Cornish) e Blondie (Vanesse Hudgens), caracterizadas como dançarinas de bordel
   Assim, ela se alia com suas novas companheiras e elabora planos objetivando roubar os items citados pelo sábio no bordel. Ela, então, dançaria, destraindo os capangas de Blue, enquanto que as outras partiriam em busca pelos items. E, como da outra vez, não vemos a ação se desenrolar no bordel: somos lançados em três alucinações que equivalem a cada busca pelos items: o mapa estaria sobre a posse de soldados alemães zumbis em um cenário de I Guerra Mundial; o fogo estaria num Mundo Medieval com orcs e dragões e a faca seria, na verdade uma bomba, na posse de robos assassinos em um planeta distante. Porém, os planos não saem como planejado na última fantasia e Rocket acaba sendo morta no mundo surreal, pela bomba, e no bordel, pelo cozinheiro. Além disso, Blue, que já estava desconfiado da trama acaba confirmando o que pensava através da delação de Blondie. 
   Após aprisionar Sweet Pea, Blue vai de encontro às garotas. Começa então um poderoso monólogo, em que explica para o resto das dançarinas o que vinha se sucedendo bem debaixo de seu nariz e o quão impossível de se concretizar era o plano; matando, por fim, Blondie e Amber. Quando foi ter com Babydoll, a sós, decidiu estuprá-la, cometendo assim um erro crasso: as garotas haviam conseguido roubar a faca do cozinheiro, e Baby fez muito bem o seu uso, obtendo, posteriormente a chave. Assim, após resgatar Sweet Pea, consegui, fazendo uso dos items, fugir do bordel. Mas, entre a sáida do prédio e o portão haviam muitos guardas. Assim, Babydoll percebe qual era o quinto item: o auto-sacrifício. A fuga de ma delas já seria uma vitória: e Sweet Pea tinha uma família para encontrar, uma mensagem de Rocket para a mesma e perspectiva de futuro.
   Assim voltamos a realidade do hospício. Babydoll acaba sendo lobotomizada e o Madame Gorsky acaba por descobrir que Blue falsificou sua assinatira para que isso ocorresse, além de nos revelar que tudo que aconteceu no bordel aconteceu no hospício. Com isso, ele acaba preso, porém o mal já estava feito. Voltamos a ouvir, então, a narrativa. Mas, peraí, de quem? Babydoll estava lobotomizada, sem capacidade de raciocínio e de lembrar de nada que se sucedeu? Como ela pode nos contar algo do qual não tem mais noção, como ela pode terminar o que começou? Aí está, caro leitor, a grande surpresa do filme, o que o diferencia dos demais!

Aqui quem não viu o filme e queira curtí-lo, PODE PARAR.

  O bordel e o mundo surreal NÃO eram produtos da mente de Babydoll e sim de Sweet Pea, que é verdadeiramente louca . A narrativa continuou porque foi sempre ela quem nos contou a história, ela é que via Babydoll como seu anjo salvador, assim como o sábio: ele foi o motorista de ônibus que, durante a sua fuga, ajudou-a a escapar de policiais. Os dois seriam seus protetores que, num plano espirtual, retratado como um templo buudista, teriam se encontrado para realizar sua missão, salvá-la. Sim, ó leitor, agora surpreso, já que não entendeu o filme (ou que não entendeu meu recado acima), tudo é uma visão distorcida da realidade de Sweet Pea, e não um mero escapismo; ela realmente via o hospício como um bordel. E Snyder nos dá uma dicassa sobre isso no exato momento em que vemos o bordel pela primeira vez: quem começa a narrativa nesse plano é Sweet Pea, e não Babydoll. O mundo surreal é fruto de sua imaginação louca, uma forma romantizada de descrever como elas obtiveram os items.
   Assim, crê-se que Babydoll era a única lúcida no estabelecimento, o que a permitiu fazer conexões lógicas entre items que realmente existiam para elaborar seu plano de fuga, como uma sequência entre a sua chegada no hospício e o início da fantasia pode nos mostrar, uma espécie de resumão de sua estória. A partir desse momento, sua visão é substituida pela de Sweet Pea e só é retomada nos fatos que sucederam a fuga dessa última, já que ela não fazia idéia do que aconteceu (na sua mente Baby tinha perdido a virgindade para o High Roller). E o sacrifíco? Como não se sabe se a história contada por Sweet Pea sobre sua família era verdade, muito menos se existiam laços de sangue entre ela e Rocket, o mais lógico de supor é que a situação descrita realmente aconteceu e Babydoll percebeu que não conseguiria, se fugisse, colocar seu padrasto atrás das grades, já que seria foragida e considerada louca; sendo melhor a outra garota fugir. Além disso, ela sabia da mutreta feita entre ele e Blue e da falsificação da assinatura. Então, se sofresse a lobotomia, lograria provar o plano de seu padrasto para ficar com a herença. Um plot twist brilhantemente construído sobre detalhes.

AQUI QUEM NÃO VIU O FILME PODE VOLTAR A LER

 O roteiro, além de apresentar esse brilhante plot twist, foi desenvolvido em camadas, onde o mundo surreal faz parte do bordel, uma situação de semi-realidade; sendo este finalmente envolvido pela realidade. Ou seja, tudo que ocorre em uma camada influencia na outra, há uma conexão entre elas, estão distrubuídas em círculos concêntricos. Ao mostrar-nos apenas o mundo surreal e, por vezes, seus resultados no bordel, Snyder cria uma coisa que poucos conseguem, um diálogo com o espectador: fica à cargo da imaginação de cada um como se sucederam as ações das personagens no hospício, assim como seus destinos. O mesmo se aplica a mística dança de Babydoll e o que era ela no mundo real. A trama, no entanto é bastante linear, configurando a chamada "Jornada do Heroí": Babydoll é uma jovem guerreira despreparada (primeira ida ao mundo surreal) que ganha experiência em seus embates (as demais idas), tem encontros com seu mestre (o sábio), passa por privações ( a morte de suas amigas) e que, finalmente tem uma revelação: seu verdadeiro motivo para lutar é o altruísmo, o dar sua vida para o outro viver, o sentimento que a orientou a passar por aquilo tudo (quem leu Harry Potter, vai entender muito bem). É um recurso de roteiro encontrado facilmente nas várias mídias e artes, pode ser até considerado clichê. Eu o considero clássico.
Um dos grandes destaques do filme é a direção de arte.
   Quanto à parte técnica, perfeita. Giros de câmera que dão dinamismo aos diálogos, montagem super bem-feita, fotografia espetacular, seja para mostrar o quão fria é a realidade, o quão opulenta e a semi-realidade e o quão espetacular é o mundo surreal. Os efeitos especiais são bem empregados e o uso da câmera lenta, marca registrada de Snyder, é usada a exaustão, tornando mais interessantes e intensos os embates do filme. A direção de arte é igualmente excelente: cenários trabalhados com esmero e com detalhes deliciosos de se ver; figuinos muito bem-feitos e que potencializam a sensualidade do belo elenco feminino. Sem contar na ótima trilha sonora, marcada por releituras de canções antigas com participação do elenco do filme, e que é usada magistralmente como elemento de roteiro: são elas que catalisam as idas ao mundo surreal.
   Porém nem tudo são flores no mundo surreal. O roteiro é bem feito, mas não permitiu desenvolver muito bem as tramas paralelas: o relacionamento de Gorsky com Blue, de Rocket com Sweet Pea e as origens de Amber e Blondie, totatalmente negligenciadas. Os diálogos ora tem importância para mostrar a conexão das camadas, mas, em sua imensa maioria são pobres. Além disso, impossibilitou que o elenco desenvolvesse bem seus personagens, muito simples e sem profundidade. O elenco feminino principal tem atuações básicas que não apresentam nada de novo, sendo a melhor a desempenhada por Abbie Cornish (Brilho de uma Paixão), por motivos óbvios ( a de Vanessa Hudgens, ex High School Musical, beira o ridículo), Jon Hamm ( da série Mad Men) praticamente entra mudo e sai calado. Scott Glenn (Silverado) desempenha aquilo a que foi demandado. As melhores foram de Carla Gugino (Sin City) e Oscar Isaac (Robin Hood- 2010): a primeira rouba a cena com uma personagem que, pelo roteiro, deveria ser totalmente apagada; o segundo, e melhor atuação do filme ao meu ver, transformou um vilão caricato e com tendências à inexpressividade em um déspota lascivo e que, assim como aquelas sobre quem exerce seu domínio, tem uma certa dose de insanidade.
Carla Gugino e Oscar Isaac são destaques no quesito atuação
  Assim, vimos o que resultou de uma mistura bem divertida entre Kill Bill e A Origem, como alguns disseram. Porém, Snyder, apesar da boa direção e do bom roteiro, apenas deu seus primeiros passos para alcançar Tarantino e Nolan. Isso levará tempo: ele precisa desenvolver novas histórias advindas de sua imaginação e nelas desenvolver melhor suas tramas e diálogos, seguindo especialmente os passos do primeiro diretor citado, assim como os personagens, coisa que os dois fazem muito bem; dando espaço para que seu elenco trabalhe. De resto, só tenho que dar uma cutucada naqueles que disseram que o filme é pouco inteligente, mero espetáculo visual, referências nerds atiradas a esmo; e chegaram ao ponto de fazer ridículas comparações com a Saga Crepúsculo. O filme não deixa de ser um pipocão, mas é de qualidade, sai da mesmice do gênero e é visualmente perfeito. Muitos não entenderam a profundidade do roteiro analisado, e simplesmente o consideram ruim por não estarem preparados (parafraseando a boa tagline) para perceber o que Snyder nos apresentou em seu melhor trabalho. Qualquer um tem as "armas" necessárias para compreender o que viu, só precisa usá-las.

QUESITOS:
Atuações: 5
Roteiro: 8
Técnica(fotografia e edição): 10
Trilha Sonora: 10
Direção de Arte (cenários, figurinos, maquiagem,etc...): 10
Direção: 10

NOTA FINAL- 9

PS- Antes que alguém pergunte, a mais bela e gostosa das garotas é a Sweet Pea! Se o filme fosse em 3D os peitos dela saltariam para fora da tela. Sem contar que ela tem pernas maravilhosas!

PS.1- Vanessa Hudgens ainda não se redmiu de seu passado terrível. Além de sua atuação ser a pior de longe do filme, sua personagem foi a  X-9. HAUHAUHA

Um comentário:

  1. Hm..é verdade,voce resaltou um ponto interessante,que pra mim,pelo menos passou despercebido,ou seja;a origem dos diversos personagens paralelos como Blondie,amber e a relação entre Madam Gorski e Blue.
    Ah...gostei do trocadilho "Muitos não entenderam a profundidade do roteiro analisado, e simplesmente o considaram ruim por não estarem preparados"

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