terça-feira, 7 de junho de 2011

TOP 10- Diretores da Nova geração


  Considerei "nova geração " todos os diretores que começaram seus trabalhos atrás de uma câmera, em longas metragens, de 1990 até hoje. A maioria deles conseguiu o respeito da crítica, mas ainda brigam pelo prêmio máximo que poderiam ser laureados, contando, até, com indicações ou mesmo. Reconhecidos ou não por academias e círculos de críticos, eles são o presente e futuro do cinema contemporâneo. 

10- Neil Blomkamp
 
   Apadrinhado do premiado Peter Jackson, o diretor sul-africano merece uma posição nesse singelo top 10 por sua única obra de longa metragem (ele basicamente dirigiu curtas de ficção desde que começou sua carreira em 1996): Distrito 9, o melhor filme de ficção científica desde o clássico 2001: Uma Odisséia no Espaço (1969) e o melhor dos 10 filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme em 2009. Com uma abordagem realista, desenvolveu no revolucionário sci-fi uma dimensão sociológica sobre a relação entre homens e aliens, partindo da premissa da convivência entre eles nas favelas de Johannesburgo . Recheando o filme com temas vivos nos debates contemporêneos, como exclusão social e xenofobia, atingiu um grau de profundide nunca visto no gênero. Com uma narrativa igualmente genial, que mistura o documentário com a ficção, certamente conseguiu grande admiração da crítica e do público moderno. Seu novo filme, Elysium, é um dos mais esperados em 2012.


9- Zack Snyder
   Diretor homenageado a exaustão aqui no Blog, Snyder é certamente o futuro do cinema-pipoca. Seus geniais filmes de ação surpreendem o espectador, sempre munidos de boas histórias e um visual único e extraordinário, com uso exaustivo de slow motion e milimétricamente trabalhados, o que lhe rendeu o título de Visionário. Mostrou a necessidade de se adaptar quadrinhos não só com exatidão milimétrica, quadrinhoa a quadrino, balão por balão; mas com o devido respeito que merecem, e, é claro, adicionando elementos originais que acabam por melhorar o resultado final. Em seu único trabalho original, o recentíssimo Sucker Punch, demonstrou, acima de tudo, ousadia e inventividade. Grande baluarte da cultura pop na sétima arte, certamente ainda tem muito potencial para mostrar e agradar a todos os que admiram uma diversão inteligente.


8- José Padilha 
     O diretor carioca começou sua carreira como documentarista e ganhou renome ao buscar a verdade por trás de uma das mais controvertidas ações da Polícia Militar do Rio de Janeiro: o caso do ônibus 174. Esse contato com a cinematografia documentarista foi essencial para a consolidação pelo estilo realista, bruto e, por vezes, amargo empregado em suas duas obras de ficção, os maiores sucessos da história da sétima arte brasileira: a série Tropa de Elite. Tratando de temas como tráfico de drogas, corrupção das estruturas do poder público e violência policial, criou filmes épicos e profundos. Conquistou como poucos a capacidade de fazer o espectador se divertir (graças aos diáliogos sensacionais e as cenas épicas de ação) e refletir sobre o que o filme mostra (já que trata sem romantismo algum os temas que pretende trabalhar), demonstrando, acima de tudo, sobriedade e maturidade atrás das câmeras. Chamou logo a atenção de Holywood,  e fará o remake de Robocop, previsto para o ano que vem.


7- Stephen Daldry
  O diretor inglês se inscreveu nos anais do cinema contemporêneo devido a seus filmes com grande apuro técnic, principalmente em termos de fotografia, e minimalismo artístico. Suas temáticas, normalmente o preconceito e a superação do conservadorismo enraizado nas sociedades são tratados de maneira lírica, sem deixar, porém, de ser realista e incisivo. Em Billy Elliot (2000) e As Horas (2002) podemos verificar isso de maneira clara: são duas obras poderosas, mas que não perdem seu lado poético e sensível. Em O Leitor (2008), fez uma adaptação praticamente ipsis literis da obra de Bernard Schilink, mantendo toda a sua estrutura e profundidade temática, levando o espectador à reflexão e à emoção. Outro elemento poderoso em suas obras é o elenco, sempre bem escolhido e afinado em cena, potencializa todos os temas e objetivos que ele procura trabalhar.


6- Sam Mendes
       Com uma estética excepcional e revolucionária, os filmes desse também diretor britânico tem, acima de tudo, elencos poderosos e magnéticos, que conquistam os espectadores a cada fala proferida, e, em conjunto com a estética primorosa, o hipnotizam. Os temas de seus filmes também não deixam nada a dever a esses elementos, sendo, inclusive, engrandecidos por eles. Seja na desestruturação e hipocrisia dos núcleos familiares americanos no excelente Beleza Americana (1999) sua estréia e, ao mesmo tempo, obra prima que lhe garantiu os maiores prêmios;  ou no fraco Foi Apenas um Sonho (2008) onde escorregou em detalhes; ou então no poderoso suspense que lembra os clássicos filmes de gangster em Estrada Para Perdição (2002); e, ainda, como pioneiro na "vitenamização" da Guerra do Iraque com Soldado Anônimo (2005), os filmes de Mendes conseguem exalar a harmonia perfeita entre esses três citados elementos, que, em coordenação, atingem resultados espetaculares.


5- Alejandro Gonzalez Iñirratu
     O diretor mexicano foi sinônimo, nessa última década, de estórias surpreendentes e revolução narrativa, marcada por seus filmes picotados e re-costurados com montagem acima da média. O grande poder de surpresa de seus roteiros está na capacidade do mesmo da sair de situações pequenas, e, aparentemente, banais, em contos poderosos que investigam a fundo as relações humanas. Em Amores Brutos (2000) e na sua contraparte americana 21 Gramas (2003) investiga os efeitos de um acidente de trânsito em uma realidade microssocial, indo e voltando na linha temporal em que se situam os personagens envolvidos. No brilhante Babel (2006) busca um cenário mundial para mostrar as consequências de um homicídio acidental, mostrando como em plena era da globalização, o homem ainda tem dificuldade de se comunicar. Claro que esses filmes fragmentados se unem em finais espetaculares. Em Biutful (2010) optou por uma narrativa mais conservadora, porém não menos poderosa, no que filme que é, talvez, o melhor drama da última década. Um diretor que realmente sabe atingir os sentidos do espectador.


4- David Fincher
    Conhecido por sua dedicação ao trabalho, o diretor americano teve um início ruim de carreira ao dirigir uma continuação da fraca série Alien em 1992; se redmiu ao fazer o melhor suspense da década passada, Seven (1995) em que conseguiu um casamento perfeito entre excelentes atuações do também excelente elenco escalado, técnica apurada e um roteiro diferenciado e inteligente. Repitiu essa mesma fórmula em suspenses posteriores, como Quarto do Pânico (2002) e Zodíaco (2007), claro, que com as peculiaridades devidas. Mas foi com obras de cunho filosófico que descobriu-se sua genialidade: a primeira, Clube da Luta (1999) é um estudo da natureza humana, brutal, poderoso e, acima de tudo, inteligente e com classe; o segundo, O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), trata da vida, da morte e das diferenças entre os eres humanos, é praticamente a antítese do primeiro, devido ao seu roteiro fantástico, sua fotografia  e seu desenvolvimento poético. Infelizmente, quase atingiu o prêmio máximo do cinema com o simplório e barato (no sentido de filosofia) Rede Social (2010). Um capricho do destino, talvez, que, por saber de sua capacidade, busque conceder as glórias quando realmente for merecedor das mesmas.


3- Christopher Nolan 
    Nada é impossível para esse britânico. Com casamentos perfeitos em cena entre elencos inspirados, fotografia sombria e roteiros brilhantes, Nolan se tornou o mestre do suspense moderno; com suas estórias rechadas de mirabolantes voltas, reviravoltas e surpresas; classudas e inteligentes, mostrou que é possível, sim, unir blockbusters com o melhor do cinema arte, valorizando, a inteligencia do espectador. Desde sua estréia em Amnésia (2001), desenvolveu tramas cada vez mais tensas e elaboradas, que prendem o espectador na cadeira e demandam sua total atenção. Essa é a marca registrada de seu melhor filme O Grande Truque (2006), em que somos jogados numa intrigante rede de situações e acontecimentos, onde surpresas ocorrem a cada nova cena do mesmo. Em A Origem (2010) cria um verdadeiro universo de situações quando brinca com os sonhos e a realidade, quando interpreta o subconsciente humano e coloca como catalizador de grandes aventuras, com infinitas possibilidades de novos enredos. Ainda por cima devolveu todo o repeito para o icônico Batman, chegando a discutir em Cavaleiro das Trevas (2008), o melhor filme de super-heróis já criado, um interessante debate sobre os limites da sanidade e da legalidade.


2- Darren Aronofsky
    Mestre das obsessões humanas Aronofsky disseca de maneira nua, crua e, por vezes escatológica e brutal, o subconsciente humano, os desejos mais irracionais dos mesmos; sempre munido, claro de um apuro técnico invejável, com uso de fotografia escura e lúgrube (para mostrar a escuridão em que nossa mente vive), montagem labirintica e caprichada, assim como o uso intensivo de elementos do cenário; com roteiros surpreendentes, verdadeiras viagens ao psiquê humano. Em Pi (1998) a obsessão é o número perfeito, e a fotografia em preto e branco, um show a parte. Em Requiém para um Sonho (2000) entra no triste submundo das drogas, mostrando, com força narrativa admirável e fotografia brutal, todos os seus efeitos destrutivos. Em seu filme mais poético, porém não menos poderoso, A Fonte da Vida (2006) explora o que talvez seja a maior obsessão humana: vencer a morte. O Lutador (2008) mostra como nossos objetivos podem ser destrutivos fisicamente para serem alcançados. Mas em Cisne Negro (2010) onde potencializa toda a sua temática, libertando o monstro que existe dentro de Natalie Portman, tratando da busca doentia e destrutiva da perfeição numa trama que excede expectativas; atingindo, assim, a perfeição como diretor.


1- Quentin Tarantino
          Essa lista não teria sido feita se não fosse a genialidade desse homem. Revolucionário em todos os sentidos, seja nas temáticas mirabolantes e absurdas jogadas em um emaranhado narrativo; seja na inventividade e criatividade insuperável; seja na técnica apuradíssima; seja na escolha de elencos de ponta que reunem celebridades e desconhecidos; seja nas homenagens que faz aos seus ídolos; seja nos diálogos geniais, verdadeiros deleitee; ou seja na violência empregada em sua forma mais bruta, porém glamourosa e estritamente necessária para retratar o universo de seus persnagens brilhantemente construidos, Tarantino lançou as bases do cinema contemporâneo de sucesso, aliando tramas inteligentes e divertidas com grande perspicácia e doses de humor negro. Em Cães de Aluguel (1992) renovou a narrativa em um suspense poderoso onde nada nem ninguém estão definidos de maneira clara. Essa nova exploração narrativa foi intensificada a potência máxima em Pulp Fiction (1994), aonde intrincadas(e épicas) tramas se unem em um final avassalador. Brinca com o melhor de suas influências na série Kill Bill (2003 e 2004) sem perder o estilo inovador e a capacidade de fazer boas cenas. Chega a maturidade artística final, reunindo tudo o que fez de melhor nos demais filmes, em Bastardos Inglórios (2009), sem perder, claro, a criatividade, cometendo a ousadia de modificar a História tal qual nós conhecemos. Sem mais delongas, o universo que vive na mente de Tarantino é mais ilimitado que aquele em que vivemos e é uma verdadeira caixa de Pandora: não sabemos oque poderá sair  lá, só sabemos que seremos dominados e surpreendidos novamente.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe (2011) - Mutantes com orgulho... e respeito que merecem

A série X-Men fez de tudo para angariar o descrédito de crítica e público com filmes bons, mas fracos e que não apresentavam nada de novo, chegando ao fundo do poço com o péssimo Origens: Wolverine. Voltando para essa idéia de prequel, agora contando as origens de Magneto e Professor X, muitos não botaram fé. Porém, Primeira Classe superou todas as expectativas negativas e se consolidou como o melhor da franquia. 

Nome Original- X-Men: First Class

Diretor- Matthew Vaughn

Roteiro-adaptado por Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Jane Goldman e Matthew Vaughn; a partir dos Quadrinhos homônimos de Stan Lee e Jack Kirby


Elenco- James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Jennifer Lawrence e January Jones

Parte Técnica- Henry Jackman(F); Eddie Hamilton e Lee Smith (E); John Mathieson (TS)

Data de Lançamento - 3 de junho de 2011 (Estréia Mundial)



  Quando foi anunciado o reboot da franquia X-Men, nada animava os fãs: desde a escolha do ótimo Matthew Vaughn (Kick-Ass), o elenco de respeito, fotos de produção e os trailers não conseguiam animar ninguém. Desacreditados fãs foram aos cinemas esperando meter o malho, pulverizar a produção e... tiveram que morder a língua de fel. Superando espectativas, o filme mostrou qualidades únicas e impressionantes, e o mais importante, conteúdo.
O elenco do filme tem uma química brilhante
  A história interessa muitos fãs dos quadrinhos, iniciados ou não nos clássicos. Conta como Eric Lashnner (Fassbender), o futuro Magneto, foi jogado em um campo de concentração, servindo de rato de laboratório para Sebastian Shaw (Bacon) e seu futuro ensejo de vingança contra este por todo o mal que sofreu (inclusive a morte de sua mãe) e como Charles Xavier (McAvoy), abastado, consegui desenvolver teses sobre as mutações mutantes e virar um geneticista respeitado, assim como adotou Raven Darkholme (Lawrence), mutante transformista, como sua irmã. Ele é requisitado pela CIA, no ano de 1962, para investigar Shaw e sua relação com os soviéticos e acaba se encontrando com Eric e, sabendo por seus poderes telepáticos, todas as dificuldades que esse passou, se aliam para combater Shaw e impedir seu plano: criar a terceira guerra mundial para destruir a humanidade e consolidar a supremacia mutante. Xavier também tenta evitar que Eric concrteize seus planos e esqueça sua ira contra a humanidade. Com a ajuda do jovem cientista Hank McCoy (Nicholas Hoult) descobrem outros mutantes e montam uma equipe. Logo estão unidas as peças para o excelente climax em plena Crise dos Mísseis Cubanos.
James McAvoy dá novos ares ao Professor X
  A curta sinopse foi para tentar evitar maiores spoilers que possam prejudicar-vos, queridos leitores. Digo logo que o roteiro é excelente.Talvez seu grande êxito seja mostrar o lado humano que existe dentro dos mutantes, seus conflitos internos. O preconceito e a auto-aceitação são temas trabalhados com esmero e delicadeza, nítidos na tela e, acima de tudo, numa dimensão racional. Isso permitiu que os atores aprofundassem muito bem seus personagens, estes  "tridimensionais" e multifacetados. Outro tema belíssimo é a amizade construída entre os mutantes, especialmente entre Xavier e Magneto, que a primeira vista parece ser fria, mas desenvolve-se de maneira sutil e bela. Chega-se a conclusão de conexões místicas entre os dois, muito além do simples respeito e admiração. A cena em que ambos compartilham uma lembrança de Magneto mostra o quão forte esse é laço. É tranquilo afirmar que nunca no gênero foi vista uma relação construída de maneira tão profunda (e que botou muito marmanjo e fã de quadrinhos emocionado). O plano de fundo da Guerra Fria é de igual qualidade, lembra os melhores filmes da série James Bond (a caçada de Magneto por Shaw nos mais remotos cantos do planeta é simplesmente sensacional e uma homenagem claríssima e de respeito á série) e dá um toque de glamour ao filme.
   É assim, num ritmo que pontua o bom drama desenvolvido pelos atores com cenas de ação divertidas e bem concebidas, sempre buscando surpreender o espectador, e que, apesar de alguns erros de adapatação dos textos originais que desagrada, um pouco mais quem é fã (como uma Emma Frost capacho e Alex Summers, irmão caçula de Ciclope, já adulto e lutando com Xavier); chega a um grand finale indescritível em que se evita a dicotomia entre bem e mal e desenvolve-se um embate ideológico que acaba separando os dois amigos, agora obrigados a lutar um contra o outro: a guerra justa racional de Magneto contra a humanidade e o pacimismo quase religioso de Xavier; as bases dos conflitos futuros entre eles. Não existe o certo ou o errado, Magneto e Xavier podem ser considerados mocinhos ou bandidos, e o filme deixa bem claro isso. Cabe ao espectador decidir, em sua subjetividade, qual dos dois apoiar.

Michael Fassbender constroí um Magneto humano e profundo
   As atuações são brilhantes, e a química entre os atores, especialmente entre Fassbender (Bastardos Inglórios) e McAvoy (Desejo e Reparação), não podia ser melhor. Eles estão muito bem, aprofundam os personagens que estão longe de serem simples, desenvolvem de maneira bem clara os turbilhões de sentimentos que neles existem. O Magneto de Fassbender é extremamente bem concebido em toda sua complexidade, um personagem que conquista a simpatia do público de maneira avassaladora. Sua premissa de pessoa que viu os horrores que podem ser provocados pelo homem devido ao simples fato de um outro ser diferente dele o fazem amargo e revoltado, e, acima de tudo, verossímel. Kevin Bacon (Sobre Meninos e Lobos) faz um vilão de respeito como a muito não se via, maquiavélico e amoral, transmite bem o espírito ideológico do filme. McAvoy não decepciona, fazendo um Xavier mais bonachão que o de costume, porém, que não perde a austeridade e que mostra um lado mais sentimental esquecido nos demais filmes da franquia. Coube a belíssima e expressiva Jennifer Lawrence (Inverno da Alma) criar uma Mística diferente de todas aos outras, em que substitui bem a sedução e crueldade da icônica personagem por algo totalmente diferente: a timidez e a busca da auto-aceitação são suas marcas na película, e são muito bem transmitidas ao público. Aos demais, fizeram bem o seu trabalho, com menções honrosas a January Jones ( da série Mad Men) e Nicholas Hoult (da série Skins) que conseguiram transmitir de maneira brilhante as características mais marcantes de seus pesonagens: toda a sedução de Emma Frost e as dúvidas existênciais do Fera, respectivamente.
A direção de arte é excelente e retrata bem a década de 60
   A fotografia é muito boa, ágil e com tons ora claros, ora mais escuros, criam climas de ação e suspense excelentes, ajudam a ditar o bom ritmo do filme, assim como a também ótima montagem. Os efeitos especias se mostram um pouco mal feitos em algumas cenas, mas não atrapalham o conteúdo final (apenas se mostram aquem do esperado para um filme de ação com super-poderosos). A direção de arte é caprichada, com uma reconstrução de época perfeita, retrata também brilhantemente as salas de reuniões grandiosas da Guerra Fria e jogam o espectador no clima de tensão do filme. Tudo isso pontuado com uma trilha sonora soberba, outro bom elemento do ritmo do filme.
  Matthew Vaughn reuniu todos esses elementos brilhantemente. Inspirado no antigo diretor da série Bryan Singer (agora produtor), que sempre reunia bons elencos e histórias coesas em seus filme; potencializou-os, transformou-os em elementos bárbaros e criou um filme de respeito.
  Superando os clichês das própria série X-Men e de outros filmes da Marvel, como Thor e Homem de Ferro, apresentou um filme que se aproxima do brilhante Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan; e é, de longe, o melhor filme baseado nos quadrinhos da empresa de Stan Lee. Profundo e dramático, é o algo a mais, a fuga da mesmice: diverte valorizando a trama e os atores, tem uma trama melhor elaborada que as simples cenas de ação. É o retorno brilhante dos mutantes mais queridos da ficção, um golpe nos críticos de plantão e uma jóia do gênero. Um filme que enaltece um gênero recheado de padrões e clichês e um sopro de esperança do mesmo, uma amostra de que os nossos personagens favoritos possam ser mostrados com o respeito que merecem e acima de tudo, que os X-Men não se resumem ao Wolverine (que até faz uma participação especial no filme).

Quesitos:

Atuações:10
Roteiro: 9
Técnica(fotografia e edição):8
Trilha Sonora: 10
Direção de Arte (cenários, figurinos, maquiagem,etc...): 10
Direção: 10

NOTA FINAL- 9,5

domingo, 8 de maio de 2011

Thor (2011) - Um retrocesso?

 O ator e diretor Kenneth Brannagh, com uma carreira marcada por participações em adaptações para o cinema das obras do Bardo Imortal, surpreende negativamente com o filme do heroí da Marvel, que pode até agradar os menos exigentes. 

Nome Original- Thor

Diretor- Kenneth Brannagh

Roteiro- Adaptado por Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Don Payne, J. Michael Straczynski e Mark Protosevich; a partir dos Quadrinhos homônimos de Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby
Elenco- Chris Hemsoworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Stellan Skasgaard e Sir Anthony Hopkins

Parte Técnica- Haris Zambarloukos(F); Paul Rubell (E); Patrick Doyle (TS)

Data de Lançamento - 27 de Abril de 2011 (Estréia Mundial)



   Em 2008, com Homem de Ferro, a Marvel Studios nos mostrou sangue novo no que tange a filmes de heróis. Sob a batuta do brilhante Robert Downey Jr. como Tony Stark, o filme nos apresentou um protagonista fanfarrão e imprevisível, uma imagem que fugia totalmente dos clichês do gênero e uma belíssima novidade. Depois de anunciarem o mega-projeto Os Vingadores (estréia marcada para 2012) e vários filmes como seu prólogo, muitos esperaram novas aplicações da fórmula inovadora do filme anterior. Porém, em Thor, a coisa foi bem diferente, como a sinopse pode comprovar.
    Thor (Hemsoworth) é filho de Odin (Anthony Hopkins); um orgulhoso e vaidoso guerreiro do Planeta Mágico de Asgard, terra dos Deuses Nórdicos da mitologia; e herdeiro do trono do mesmo, para inveja de seu irmão Loki (Hiddleston). Levado pela sua impulsividade, acaba gerando uma ameaça de guerra entre o seu reino e o dos Gigantes de Gelo do Planeta Jotunheim. Isso faz com que seu pai o exile na Terra para que aprenda a humildade e compaixão, tirando todos os seus poderes. Na Terra ele é resgatado pela astrofísica Jane Foster (Portman), que questiona, a partir de dados científicos, como ele foi parar ali (e se apaixona pelo herói no processo, como de costume). Enquanto isso, em Asgard, Loki acaba descobrindo que é descendente dos Gigantes de Gelo e decide tomar o trono para si.
A relação entre Jane Foster e o heroí é uma ode aos clichês
   Esta curta sinopse já mostra qual é o grande problema e, ao mesmo tempo retrocesso do filme: uma história clichê, simplória e completamente previsível do filme. Em nenhum momento o filme surpreende o espectador, que, se for muito atento ou, simplesmente, acostumado com os chavões do gênero; no momento em que Thor é jogado a Terra, é capaz de saber com precisão o que vai acontecer até o final da película. Com cenas de ação igualmente fracas e que não empolgam nem o mais animado dos fãs de ação; tem algumas cenas de comédia que divertem e tem o ponto positivo de ser uma boa adaptação do material original (com todo o seu estupro a mitologia nórdica), assim como referências a demais obras do universo Marvel; o que poderá agradar os viciados em quadrinhos de plantão. Vai na contramão dos filmes de herói recentes, que buscam não subestimar a inteligência do espectador, tramas cada vez mais complexas e inventivas; sem perder, claro, o objetivo da diversão.
A atuação de Chris Hemsoworth é uma boa surpresa. Anthony Hopkins como sempre, faz bem o seu trabalho
   Os personagens são pouco desenvolvidos, porém as atuações salvam o filme de ser um fiasco total. Chris Hemsoworth se mostra um ator versátil, com bom timming para comédia e postura altiva que todo protagonista deve ter. Anthony Hopkins nos brinda com um Odin amoroso e que impõe respeito aos seus filhos, numa boa atuação. Natalie Portman faz seu feijãozinho com arroz, em um papel que demandou nem um décimo de sua capacidade de atuação, devido ao fato de ser um papel-clichê típico; o mesmo se aplicando a todo elenco de apoio. A decepção nesse quesito ficou por conta do ator Tom Hiddleston, que fez um vilão apático,previsivel e inexpressivo; uma verdadeira caricatura (ele parece com um Sheldon Cooper, da série The Big Bang Theory, só que sem a menor graça).
  Em termos técnicos, o que atrapalha é a desnecessária fotografia tombada em um grande número de cenas. A edição é muito boa, dá um ritmo bom ao filme, com passagens constantes de Asgard para a Terra e vice-versa. A direção de arte é caprichada, com cenários belos e figurinos bem concebidos, embora não tenha gostado da inspiração high-tech que o visual mítico de Asgard carregava; preferindo algo mais clássico. Os efeitos especiais por vezes mostram-se aquem do que se espera para um filme do gênero, mas, em média, não decepcionam. E a Trilha Sonora? Ih, nem notei que existia, de tão nula e pouco impactante que ela é.
O ator Tom Hiddleston decepciona como o vilão Loki
  Brannagh, o Lawrence Olivier de nossa época, tentou, sem sucesso, colocar conflitos dignos de uma tragédia de Shakespeare na trama (já que trabalhou exaustivamente com o autor); o que até deu certa força as cenas de diálogos, porém, sem nenhum resquício da profundidade das obras do grande dramaturgo inglês. Acertou na mão ao escolher o elenco, mas errou feio na parte técnica, muito mal feita para um diretor que já mostrou capricho impar nesse quesito. Ou seja, fez um filme bem distante de suas reais capacidades atrás de uma câmera.
  Bem, pode-se dizer que Thor foi um filme de herói na contramão de seu tempo. Um filme que ficou preso a fórmulas antigas de sucesso em termos de roteiro; deixou muito a desejar tecnicamente e não ousou como muitos de seus "colegas" contemporâneos. Deixa uma pulga atrás da orelha para Os Vingadores e nos bota num túnel do tempo que nos leva aos filmes do gênero na década de 90: previsíveis, transbordando de clichês, com doses de humor e que tiram a credibilidade das adaptações para o cinema. Pode até agradar os menos exigentes que buscam uma diversão descompromissada; mas deve irritar, e muito, os fãs de quadrinhos, já acostumados a ver, na sala escura, seus heróis favoritos retratados com toda a pompa, circunstância e respeito que merecem.

Quesitos:

Atuações:6
Roteiro: 3
Técnica(fotografia e edição):6,5
Trilha Sonora: Zero
Direção de Arte (cenários, figurinos, maquiagem,etc...): 9
Direção: 5

NOTA FINAL- 5

PS: Tem uma cena após os créditos, não que seja importante; apenas mostra que vai ter continuação.

PS²: Se quiser assistir por causa de mitologia nórdica, vá ler um livro. Se está com preguiça, pegue o desenho animado clássico Cavaleiros do Zodíaco e assista a Saga de Asgard.

PS³: Natalie Portman gosta muito de seus fãs nerds para fazer um filme como esse!

domingo, 10 de abril de 2011

A Rede Social (2010) - O Cinema-Artigo

David Fincher mostrou-se um diretor versátil e inventivo ao longo de sua carreira. Em O Clube da Luta (1997) reviveu a filosofia no cinema da maneira mais anárquica possível em um filme complexo, agressivo e genial. Em Benjamim Button (2008) explorou esse mesmo tema filósofico de uma maneira extremamente poética e lúdica, uma verdadeira obra-prima da contemporaneidade. Em Seven (1995) e Zodíaco(2007) desenvolveu uma norma forma de fazer suspense, extremamente criativa com um diálogo firme entre a estória e o espectador. Chegamos em A Rede Social, o afastamento total e 
absoluto de um diretor de seus propósitos que o fizeram ser um artista admirado.

Nome Original- The Social Network

Diretor- David Fincher

Roteiro- Adaptado por Aaron Sorkin a partir do livro Bilionários por Acaso, de Ben Mezrich

Elenco- Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer e Max Minghella

Parte Técnica- Jeff Cronenweth (F); Kirk Baxter e Angus Wall (E); Trent Reznor e Atticus Ross (TS)

Data de Lançamento - 1 de outubro de 2010 (EUA)



   É possível fazer um filme sobre a criação do Facebook? Sim e ele está sendo lançado nas locadoras e lojas para provar isso. Agora se o filme é cinema da mais alta qualidade tenho minhas dúvidas. E são essas dúvidas que quero expor nessa crítica. Comecemos pela sinopse.
   Mark Zuckeberg (Eisenberg) é um estudante de computação de Haravard que uma noite, após brigar com sua namorada e ligeiramente acoolizado, decide se vingar da pior maneira possível. Usando de códigos e senhas para hackear os arquivos dos diferentes alojamentos da universidade cria um site parafazer comparações e rankings das mais diferentes garotas, o Facemash. O site é um sucesso instantâneo o que faz o servidor da internet do campus cair. Porque que eu descrevi essa cena, bem, ela tem uma pequena importância para o resto da trama e porque ela é simplesmente sensacional, uma entrada digna de um prato principal delicioso. Bem mas só a entrada é boa mesmo: a refeição em seu resto é bem insossa.
Cena inicial do filme: uma entrada de lamber os dedos para um prato principal requentado
  Assim passamos a ver o roteiro dividido em duas frentes: Zuckeberg frente a frente com os irmãos gêmeosWinklevoss (Hammer) e Divya Narenda (Minghella) em um processo e ao brasileiro Eduardo Saverin (Garfield) em outro; e o resto da trama nos conta como ele chegou nessa situação. A primeira é muito simples: as outras partes convidaram Zuckeberg a fazer um site de relacionamentos para alunos de Harvard se comunicarem e deram um prazo de entrega para ele elabora-lo. Zuckeberg fez, ampliou, o chamou de Facebook, estava ganhando muita grana enquanto que eles, os donos dos direitos autorais não ganhavam nada com isso. De início com duvidas quanto a processá-lo, vendo a mina de ouro que o site estava se tornando, decidiram ganhar o quinhão que era deles por direito. O segundo envolve um terceiro personagem: Sean Parker (Timberlake), que havia tentado entrar no ramo da Internet sem sucesso, decidiu se aproveitar do jovem gênio e sua lucrativa criação para ganhar o dele. O convence então a ir a Califórnia e estabelece o Facebook como empresa de maneira definitiva por lá. E aonde entra Saverin nessa história. Bem ele era o melhor amigo de Zuckerberg e foi a pessoa que deu o capital inicial necessário para começar o Facebook e tentou ainda buscar mais investimentos indo pessoalmente buscar investidores. Nesse interim também conheceu Parker e logo foi passado pra trás por ele: assinou um contrato, influenciado por este, com claúsusulas desleais que não são tirou todas as suas ações como a co-autoria do site de relacionamentos. Por isso ele deixou de confiar em Zuckeberg e entrou com uma ação para reaver o que era dele por direito. Essa é a descrição do caso meretíssimo, sem mais nada a declarar.
  Vocês caros leitores acham que seu humilde narrador está brincando: sim, essa é a história do filme, sem uma virgula a mais ( a não ser os textos que aparecem na última cena nos informando que fim levaram os litígios acima descritos). Vejam vocês a simplicidade do roteiro: nos informa sobre as origens de duas ações judiciais e só, não sai disso, não apresenta nada de novo e, nessa narrativa de quase duas horas nos apresenta como o Facebook, o objeto da ação (na verdade, os direitos sobre sua criação), foi concebido. Além disso nos apresenta uma filosofia baratíssima de como o homem que criou uma forma das pessoas se comunicarem melhor acabou, no mundo real sem amigos. Uma mensagem totalmente clichê e que não enobrece em nada os objetivos do filme, nem o tornam mais complexo: descrever os bastidores da criação da maior rede social do mundo. Se o filme é uma adaptação fiel ao livro, não sei, muito provavelmente é, mas não é um bom roteiro. Os diálogos atpe que não são ruins: neles estão as informações que o filme quer passar. Agéis, impedem que o espectador caia na sonolência e ainda demanda sua atenção.
Jesse Eisenberg como Zuckeberg: pouca versatilidade
   As atuações são o ponto mais fraco do filme. Vendo posteriormente dois filmes com participação de Jesse Eisenberg ( Zumbilândia e Férias Frustradas de Verão) comédias, percebi que ele faz o mesmo papel a três filmes: o esteriótipo de nerd meio pirado, mas nesse aqui com um ar mais sisudo e racional. É o mesma figura os três filmes. Não posso dizer que ele atua mal, sim ele convence na sua figura esteriotipada, mas mostra também a sua pouca versatilidade ao compor papéis. Talvez tenha conseguido sua indicação ao Oscar devido ao respaldo crítico que o filme teve. Armie Hammer (primeiro papel de destaque) e Max Minghella (Siryana) fazem o que manda o script. Justin Timberlake, por ser cantor de boyband de formação não faz idéia do que está fazendo no filme, destruindo totalmente qualquer credibilidade que poderia ter fora do ramo musical. O melhor mesmo é Andrew Garfield (o novo Peter Parker), que mostra bastante versatilidade para compor este que talvez, é o personagem mais bem construído pelo roteiro roteiro fraco: ele realmente consegue conquistar a empatia do público.
  Talvez a parte técnica seja o melhor aspecto do filme. A fotografia é bem trabalhada com boas tomadas tanto de close quanto mais panorâmicas, os giros e cortes dão agilidade ao filme e aos diálogos. A montagem então, é acima da média: a idéia de fazer o filme em flashback com uso extensivo deste recurso desperta uma curiosidade do espectador na trama pobre e conservadora, dando-lhe uma roupagem moderna. Quanto a produção de arte, totalmente dentro de padrões, é boa, mas não enche os olhos e nem provoca a admiração do espectador, mais do mesmo e se encaixa bem no que a trama demanda. A trilha sonora talvez seja o grande ponto negativo do filme, é um verdadeiro contraponto a narrativa ágil do mesmo: sonolenta acima de tudo, não se conecta ao espírito do filme. Deve ter ganho o Oscar por ter a composição mais elaborada.
Andrew Garfield é a grande surpresa nas atuações pobres do filme
   David Fincher porém não decepciona. Consegue conectar esses elementos falhos e nos apresentar um um filme leve e divertido, com um certo conteudo de "curiosidades" para debatermos em bate-papos trivais. Em termos gerais, racional e vazio, sem nenhum ponto de conexão verdadeiramente forte para com o espectador, a não ser uma certa curiosidade de entrar na Wikipédia depois da sessão e saber um pouco mais sobre os personagens reais envolvidos. O resultado final é bom e ainda maquia os problemas da obra, especialmente para os olhos menos atentos. Um filme ótimo como um passatempo um pouco mais sofisticado, mas longe de atingir as pretensões que queria: inscrever-se na calçada da imortalidade do Oscar.  Realmente, um trabalho que poucos conseguem, uma coisa que só um gênio como Fincher conseguiu fazer e que lhe rendeu prêmios mundo afora. E justiça seja feita, Tom Hooper coroar sua curta carreira cheia de perspectivas com um Oscar foi bem melhor que dar ao célebre diretor aqui citado seu prêmio máximo por um filme que não mostra  toda a sua capacidade atrás de uma câmera, mas uma capacidade muito boa de esconder problemas
  Assim chegamos ao fim da análise: um filme cheio de falhas,mas que foi tão bem camuflado que se tornou um potencial ganhador de Oscar e um ótimo filme para entreter com classe e inteligência. Ele se adapta bem ao gosto do público moderno: diverte e ainda narra um acontecimento atual e que atinge diretamente o espectador. Lança talvez um novo paradigma no cinema, um paradigma em que a narrativa se aproxima de um artigo de jornal ou períodico: direto com a informação, que nada mais é o que o leitor/espectador quer, entretanto vazio com a arte e os sentimentos que devem estar em toda obra imortal do cinema.

QUESITOS:
Atuações: 5
Roteiro: 6,5
Técnica(fotografia e edição): 10
Trilha Sonora: 6
Direção de Arte (cenários, figurinos, maquiagem,etc...): 8
Direção: 9

NOTA FINAL-7,5


Gostou da nota, Zuckerberg? 
   

O Discurso do Rei (2010) - Quando Monstros se Encontram

Muitos consideraram o filme de Tom Hooper clichê e antiquado, como o cinema britânico em sua totalidade. Mas a nova forma de contar uma narrativa batida, baseada em atuações espetaculares, direção técnica e artística esmerada e um novo objetivo tornam esse filme grandioso e merecedor de todas as glórias que recebeu, assim como um ótimo contra argumento à todas as críticas. 

Nome Original- The King's Speech

Diretor- Tom Hooper

Roteiro- Original; de Daivid Seidler

Elenco- Colin Firth, Helena Boham Carter, Geoffrey Rush, Guy Pierce, Michael Gambon e Thimothy Spall

Parte Técnica- Danny Cohen (F); Tariq Anwar (E) e Alexandre Desplat (TS)

Data de Lançamento - 6 de setembro de 2010 (Festival de Telluride, EUA)



   Filmes britânicos são normalmente pontos certos com a crítica e com a Academia, rendendo várias estatuetas no maior prêmio da indústria cinematográfica. Marcado por um esteticismo caprichadíssimo, tais obras normalmente não tem apelo para com o público, sendo admirados por faixas seletas e que buscam boas e simples histórias ou simplesmente compreender melhor um período histórico retratado. Aí entra a grande revolução de O Discurso do Rei.
O elenco principal de O Discurso do Rei: enredo simples e envolvente
   A história é bem simples: Albert (Firth), o Duque de Windsor e segundo na sucessão do trono britânico, sofre de uma gagueira crônica que o atrapalha, inclusive, nas suas relações familiares. Depois de vários tratamentos frustrados com os melhores médicos do império e uma quase desistência de busca de cura, sua esposa, Elizabeth (Boham Carter) decide procurar um fonaudiólogo chamado Lionel Logue (Rush) conhecido por seu sucesso e ,igualmente, seus métodos heterodoxos; convencendo o futuro Rei George VI a se consultar com ele. Logo, vemos o desenrolar de uma típica amizade inesperada, marcada por deliciosos diálogos gerados a partir da total quebra de protocolo imposta por Logue a seu ilustre cliente, e, claro, atritos. Igualmente tomamos conhecimento das possíveis origens da gagueira de Albert: uma família fria e protocolar (como a belíssima cena da morte do Rei George V nos mostra); um pai (Gambon) muito rígido, que acreditava que a gagueira poderia ser facilmente vencida por esforço pessoal; e um irmão, o Rei Edward VIII (Pearce), que buscava constante humilhá-lo por tal fato, o que aumentava ainda mais sua insegurança. 
   Foi esse mesmo irmão que abdicou o trono em prol de um casamento com uma mulher divorciada (o que é inconstitucicional pelas leis do país) e jogou uma batata quentíssima no colo de Albert: como um gago pode unir um império, superar a imagem de um antecessor vivo e construir uma imagem carismática que possa ajudar a combater a de um adversário desenvolto e teatral como Hitler às vésperas de um conflito armado certo? Enfim, como um gago inseguro pode se tornar um verdadeiro líder? Mais do que nunca, o rei precisaria não só dos conhecimentos terapêuticos, mas da amizade de Logue. A história de desenrrola a partir daí para um final previsível (um grande discurso que uniu o Império Britânico), mas que não impede uma certa ponta de apreensão.
Rush e Firth em cena: atuações são o ponto forte do filme
Como a sinopse pode mostrar, o roteiro é um típico conto de superação, como tantos outros no cinema. O que o torna inovador é colocar aí a imagem de um líder histórico e, diferentemente dos demais filmes que tocam nessas figuras, não o enaltece e o transforma em um grande heroí; e não o desconstroi mostrando todos os seus podres e falhas, tenta um meio-termo: desconstroí o líder, mas o torna uma figura humana, aproxima-o de nós, meros mortais, mostra que qualquer um por mais poderoso que seja, tem um ponto fraco e, muitas vezes, tem grandes amigos que o ajudam a superar isso. Outra grande vantagem do filme é que ele passeia pelo drama sem cair em um caminho melodramático: é emocionante sem exageros, em pequenas cenas simples e delicadamente construídas, é leve e por vezes, cômico ( não dá para segurar o riso diante  das disputas de ego entre o Rei e seu terapeuta), não caindo também em mesmices do gênero; sendo, de maneira geral divertido e delicioso de se assistir. É também um filme sobre a comunicação (ou a falta dela) do homem, a necessidade de seu desenvolvimento e a dificuldade que muitos tem de desenvolvê-la com perfeição, um elemento desenvolvido da maneira mais lirica possível. Um texto nada vazio e que merece aplausos.
Geoffrey Rush é o grande maestro do filme
   Outro grande ponto positivo é a liberdade que ele dá aos atores. E que atuações. O elenco de apoio é fantástico, por menor que seja a importância do personagem, tem grande poder dramático. Os destaques do mesmo são Helena Boham Carter (Alice no País das Maravilhas) que deixa de lado os personagens excêntricos de sua carreira e mostra toda sua capacidade dramática ao interpretar uma discreta mas marcante Rainha Elizabeth (ou Rainha Mãe); Michael Gambon (o Dumbledore de Harry Potter) e Guy Pierce (Amnésia) cumprem seus papéis com louvor, mostrando bem como seus comportamentos foram importantes para moldar as inseguranças de Albert.
Colin Firth: maturidade dramática que passa longe do melodrama
  Por falar em Albert, não existem palavras para descrever as atuações de Colin Firth (Direito de Amar) e Geoffrey Rush (o Barbossa de Piratas do Caribe). Os dois realmente dão aula em atuações perfeitas e poderosas, uma das melhores da história. O primeiro conquista, na primeira cena do filme, a total empatia do público: a sua interpretação da gagueira está longe de ser exagerada, é totalmente verossímel, e sua insegurança é tocante, mostra bem a humanidade em todos os sentidos do personagem. Poderosa e bela, Firth mostrou toda a sua maturidade artística no papel, mostrou porque mereceu todos os prêmios que recebeu e porque merece ser considerado, quem sabe, o maior ator dos últimos 20 anos (britânico pelo menos). O segundo mostrou um personagem mais leve e igualmente cativante: fino e sarcástico, Logue é a alma do filme, potencializa os deliciosos diálogos entre ele e o rei e desenvolve um interessante contraponto à austeridade da monarquia britânica. Uma atuação monstruosa do brilhante Rush (laureado com o Oscar de Melhor Ator por Shine em 1996) , desenvolta, visceral e arrebatora. Ele caminha do humor finíssimo britânico para o drama; conduz o filme como um maestro místico que conquista o público a cada palavra proferida. Um casamento perfeito de dois monstros da atuação. O melhor do filme é ver essa dupla em cena e curtir cada momento em que eles exalam a magnificência de suas atuações.
   A parte técnica é igualmente perfeita. Uma fotografia baseada em tons sombrios e pálidos, que mostra o ambiente frio e ao mesmo tempo selvagem que o rei deve enfrentar. A montagem é brilhante e a reconstituição histórica é perfeita: cenários belíssimos, figurino perfeito, uma produção artística de encher os olhos. Alexandre Desplat desenvolve uma trilha sonora, digamos, paradoxal, discreta e marcante no início para um produto grandioso e poderoso de acordo com o desenrolar do filme, com cada barreira vencida pelo Rei George. Enfim, uma trilha sonora que dá dinâmica a um filme já dinâmico.
A fotgrafia não é só belíssima, mas um importante elemento narrativo
    Coube ao extreante Tom Hooper (um filme apenas levado à grande tela e alguns trabalhos na televisão antes do Discurso) juntar todos esses elementos minuciosamente detalhados em um filme redondo, sem arestas ou fios soltos que pudessem ser passíveis de crítica: um filme perfeito. Essa união é conservadora, porém, atemporal: seria grandiosa em qualquer momento do cinema. Não é uma perfeição arrebatadora como seu rival no Oscar Cisne Negro, mas uma perfeição simples (não simplória) como seu objetivo e o que ele provoca no público. Talvez seja o melhor filme já feito sobre a monarquia britânica: não busca sua glória e opulência, como Elizabeth (1998); ou intrigas que mudem a visão do público sobre suas relações mais secretas como o (péssimo) A Rainha (2006); mostra o lado mais humano de tais personagens, algo próximo de nossa realidade; e, com esse objetivo bem simples mas, ao mesmo tempo, revolucionário, toca o que há de mais humano em nossos corações e mentes.

QUESITOS:
Atuações: 10
Roteiro: 10
Técnica(fotografia e edição): 10
Trilha Sonora: 10
Direção de Arte (cenários, figurinos, maquiagem,etc...): 10
Direção: 10

NOTA FINAL- 10


Pedido de Desculpas

A todos os leitores vorazes por novas críticas e histórias, desculpe por essa última semana sem posts. A vida na faculdade está difícil e tempo é algo que me tem faltado bastante. Provas e outras coisas tem atrapalhado e muito o andamento do Blog. Idéias criam ciclos em minha mente, mas não posso tirá-las desse lugar de acesso exclusivo e passá-la para vocês. Essa semana tentarei gerenciar melhor meu tempo e escrever um pouco mais. Também tenho aprendido a desenvolver sinopses mais sintéticas, o que possibilitará textos curtos e, consequentemente, menos tempo para desenvolvê-los.

Agradeço a contribuição de todos e abro espaço para uma homenagem ao gênial diretor Sidney Lumet, que nos deixou ontem a noite. Seus filmes Um Dia de Cão e Rede de Intrigas são expressões puras do cinema de autor que marcou Holywood, onde ele trabalhou temas próximos da realidade do garnde público e deixou seus atores com liberdade quase total para nos contar essas ótimas estórias. O meu favorito, por ser estudante de direito é o igualmente genial 12 Homens e uma Sentença, obrigatório para quem quer ver atuações únicas do cinema clássico dos anos 50, com Henry Fonda e  Lee J. Cobb. Vale a pena dar uma conferida em suas obras e tentar captar toda a importância desse homem para o cinema contemporâneo, seja pelas novidades narrativas, seja pela liberdade dada ao ator para otimizá-las. O cinema agradece seu trabalho com uma reverência.
Sidney Lumet (1915-2011)

domingo, 3 de abril de 2011

TOP 10- Vilões da Década (2000-2010)

Na última década o cinema nos presenteou com várias obras de rara beleza, quase clássicos instantâneos (como o ótimo Uma Mente Brilhante) e alguns outros que não atingiram muito bem seus propósitos (como a ode neo-imperialista disfarçada Avatar) . Uma coisa que não podemos negar foi a importância dada aos vilões durante estes anos: eles se tornaram cada vez mais complexos e imprevisíveis, tendo, muita vezes, mais importância na trama que os próprios protagonistas, conseguindo, assim, um espaço indelével nos corações e mentes dos espectadores. Ao meu ver, esses foram os mais importantes:

10- O Duque, de Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001)
Interpretado por Richard Roxburgh
    Com uma performance emblemática, Richard Roxbourgh incorporou a caricata figura do the Duke, no super musical Moulin Rouge, um ótimo vilão no que tange às clássicas histórias de amor impossível. Mostrando bem as duas facetas do personagem, ora com um ar mais naif, quase infantil; ora como um verdadeiro maníaco possessivo que quer, a todo custo, exercer seu domínio sobre a bela Satine (Nicole Kidman). Sem contar a nova interpretação que dada, juntamente com o também brilhante Jim Broadbent (Harry Potter e o Enigma do Príncipe), ao clássico pop "Like a Virgin" de Madona, mostrando, acima de tudo, que foi um ator bem versátil na construção de seu personagem. Uma das melhores atuações no filme de Baz Luhrmann (Austrália), mas que não conseguiu, como os demais vilões citados, ofuscar tanto as performances dos protagonistas.



9- Salim Malik, de Quem Quer ser um Milionário (2008)
     Interpretado por Azharuddin Mohammed Ismail (criança), Ashutosh Lobo Gajiwala (adolescente) e  Madhur Mittal (adulto)
     Apesar de seus momentos de redenção, como quando salva de seu irmão Jamal (Dev Patel) de ter seus olhos furados por alicidores de menores, certamente Salim é mais lembrado pelas ações reprováveis(e pelo fato de sua nobreza estar sempre no segundo plano de suas aspirações) que realiza ao longo do moderno conto de fadas de Danny Boyle (127 Horas). Durante toda sua vida, humilhou seu irmão das mais diferentes maneiras, desde a molecagem de vender uma foto autografada conseguida a um custo bem anti-higiênico até ameaçar a vida do mesmo, quando já estava trabalhando para os mafiosos dos slums de Mumbai. Com uma malandragem que seria bem recebida em qualquer rodinha de samba, esse encapetado indiano também é um importante contraponto ao romantismo e idealismo que permeia as ações de seu irmão: ele tem uma visão mais realista e maquiavélica de como vencer na vida.


8- Bill, de Kill Bill Vols. 1 e 2 (2003 e 2004)
 Interpretado por David Carradine
     O saudoso David Carradine (O Ovo da Serpente) nos presenteou com essa atuação de mestre, orientada por Quentin Tarantino. Bill é mais um típico vilão possessivo: atirou na mulher que amava (Uma Thurman) e tomou para si sua filha, como forma de se vingar do fato dela o ter abandonado sem nenhum motivo aparente. Odiado por muitos que ouvem seu nome, o enigmático vilão nos proporciona um dos monólogos mais deliciosas da obra tarantinesca, quando fala da diferença entre o Super-Homem e os demais heroís. Infelizmente não pudemos ver o discípulo de Pai-Mei desenvolver suas habilidades de luta à máxima potência: ele foi rapidamente derrotado pelo místico golpe dos Cinco Pontos que Explodem o Coração.


7- Lots-O', de Toy Story 3  (2010)
     Interpretado por Ned Beatty (voz)
     A Pixar sempre conseguiu desenvolver bons vilões, mas nenhum como o terrível Lots-O'. Marcado pela frase chavão "as aparências enganam", o urso cor-de-rosa com cheiro de morango esconde uma natureza terrível. Extremamente egoísta, após ser abandonado pela dona, chegou à Creche Sunnyside onde começou um reinado de horro, baseado em um totalitarismo e uma divisão de castas entre os brinquedos. Chega ao ponto de trair, em um momento de extrema tensão, aqueles que salvaram sua vida. Um vilão moralmente complexo e cegado pelo ódio, muito diferente daqueles criados para animações; ajudou Toy Story 3 a ser um ótimo gran-finale de uma série ímpar.


6- Zé Pequeno, de Cidade de Deus (2002)
Interpretado por Douglas Silva (criança)  e Leandro Firmino (adulto)
    Zé Pequeno foi um dos responsáveis por levar o gênero brasileiro favela movie a um patamar de prestígio internacional. Caracterizado por muitos criminólogos como típico exemplo das teorias positivistas do criminoso nato (uma pessoa que, pela sua própria natureza, tem tendências a cometer atos desviantes), demonstrou, desde criança, crueldade e megalomania ímpares. Isso o levou a buscar por toda sua vida o objetivo único de construir um império particular na universo microssocial onde vivia, a comunidade carente na Zona Oeste do Rio de Janeiro da Cidade de Deus; baseado não só no controle total do tráfico de drogas, mas também da vida de seus sofridos habitantes. Com frases de efeito que até hoje são repetidas à exaustão por fãs do filme, Zé certamente foi uma importante materialização da dura e violenta realidade carioca.


5- Coringa, em O Cavaleiro das Trevas (2008)
     Interpretado por Heath Ledger
   "Why so serious?" nos pergunta o insano personagem, retratado por Christopher Nolan (O Grande Truque) no máximo de seu niilismo e loucura, naquele que foi o maior Blockbuster dos últimos anos (muito graças a esse icônico personagem). Com uma psicopatia que tende ao infinito e um passado totalmente enigmático (que Nolan deixa a cargo da imaginação de cada um definir qual é), o Palhaço do Crime dos quadrinhos ganha uma roupagem definitiva com a perfeita interpretação do saudoso artista australiano, que lhe rendeu um Oscar póstumo. Ele desafia o super-herói Batman (Christian Bale) à revelar sua verdadeira identidade enquanto bota em perigo, em jogos mortais, a população inocente de Gotham City. Ele peita a máfia sem medo das consequência. Ele transforma o cavaleiro branco de Gotham, Harvey Dent (Aaron Eckhart) em uma igualmente psicótica figura, Duas-Caras, aproveitando-se de seu debilitado estado mental. Ele conquista o espectador de maneira arrebatadora.


4- Daniel Plainview, de Sangue Negro (2007)
     Interpretado por Daniel Day-Lewis
    Em interpretação visceral, Daniel Day-Lewis (Em Nome do Pai) criou esse icônico personagem, a materialização da ausência de humanidade, em uma interpretação verdadeiramente visceral, e que lhe grantiu seu segundo Oscar. Daniel é um grande explorador de petróleo que vê no seu pragmático trabalho a única forma de se afastar do restante da humanidade, de se tornar superior aos seres sujos que para ele trabalham. Seu pragmatismo e ganância são tão grandes que ele simplesmente não se preocupa com os problemas à sua volta, mesmo se esses envolvam seu filho; cuja relação fria e digamos, de certa forma, empresarial (ele é ,antes de tudo, seu sócio) era um dos poucos resquícios de sua humanidade e que acaba quando este último é acometido por uma surdez. Seu embates com o performático pastor Eli Sunday (Paul Dano, excelente) também são outro ponto alto do filme, desenvolvendo de maneira violenta o eterno combate entre os poderes temporal e atemporal.


3- Anton Chigurh de Onde os Fracos Não Têm Vez (2007)
Interpretado por Javier Bardem
       Esse suspense só é obrigatório pela presença desse icônico personagem. Na sua perseguição implacável em busca do dinheiro dos traficantes de droga na fronteira entre México e EUA, Chigurh é o verdadeiro mal irrefreável, nada nem ninguém pode deté-lo para alcnaçar esse objetivo; sejam traficantes, policiais ou até mesmo uma fratura exposta. O personagem exala insanidade pelos seus poros e seus atos aumentam e muito a tensão desenvolvida ao longo da trama. Munido das mais diferentes armas possíveis, ele realmente sabe como fazer uma vítima sofrer. Normalmente calado e inexpressivo, Chigurh é o retrato definitivo da psicopatia: frio, sádico e calculista. A interpretação de Javier Bardem (Mar Adentro) é extremamente verossímel e monstruosa, e ainda lhe garantiu o mais que merecido Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.


2- Capitão Vidal, de O Labirinto do Fauno (2006)
   Interpretado por Sergi López
     O ator espanhol Sergi López ganhou renome internacional ao interpretar o terrível Capitão nesse moderno conto de fadas que trabalha com o clássico tema do confllito entre os horrores da guerra e a inocência. Vidal é a personificação do totalitarismo que defende: frio e despótico são características que certamente fazem parte de sua natureza. Porém a crueldade e um certo sadismo são suas marcas registradas. Seus atos horrorizam não só os demais personagens do filme como também ao espectador: tortura, execuções a sangue frio (inclusive de sua enteada), e covardes; atos desempenhados sem um pingo de moralidade são  constantes ao longo da narrativa. O personagem, por isso carrega uma aura de tensão e imprevisibilidade: não se sabe qual a próxima crueldade que ele vai cometer; sua figura fria gera medo a quem tem forças para encará-la de frente. Um personagem brilhantemente lapidado por um excelente roteiro e potencializado por uma atuação única.


1- Coronel Hans Landa, de Bastardos Inglórios (2009)
     Interpretado por Christoph Waltz
       
   "THAT'S A BINGO!". Antes de Hans Landa nunca houve coronel nazista que conquistasse a empatia do público. E nem depois dele! Após ouvir depoimentos que muitos torceram por ele, mesmo sabendo de sua alcunha de "Caçador de Judeus", não haveria como eleger outro vilão da década para ocupar o posto mais alto neste Top 10. Extremente carismático e desenvolto, Landa nos conquista pouco a pouco com suas falas simplesmente épicas ao longo do filme, falas esses desenvolvidas em quatro línguas diferentes (inglês, francês, alemão e italiano). As cenas que o envolvem, por mais importantes que sejam para a trama, são carregadas de grande leveza com pitadas de tensão. Em algumas fica até difícil segurar o riso, seja pelo que ele fala, seja pelas suas expressões faciais variadas. Sua explicação sobre como consegue encontrar os judeus mais bem escondidos é um dos melhores monólogos da história do cinema. Mas como tão admirável figura pode ser um vilão? A resposta é que ele é um caçador de judeus extremamente frio e calculista, que não mede esforços para atingir seus objetivos. Mais vilanesco que isso, impossível

sábado, 2 de abril de 2011

Sucker Punch: Mundo Surreal (2011)- Trocando gato por lebre sem direito à reclamações

Durante a publicidade de seu novo filme, Zack Snyder nos vendeu a idéia de um filme de ação com muita pancadaria e mulheres belíssimas com pouca roupa. O resultado final foi diferente: além disso, nos presenteou com um filme inteligente e surpreendente, muito melhor do que a proposta anterior. 

Nome Original- Sucker Punch

Diretor- Zack Snyder

Roteiro- Original; escrito por Zack Snyder e Steven Shibuya

Elenco- Emily Browning, Abbie Cornish, Jenna Malone, Vanessa Hudgens, Jamie Chung, Oscar Isaac, Carla Gugino, Jon Hamm e Scott Glenn.

Parte Técnica- Larry Fong (F), William Hoy (E); Tyler Bates e Marius de Vries (TS)

Data de Lançamento- 25 de março de 2011 (Lançamento Mundial)



   O que é Sucker Punch? Uma mistura tresloucada de referências à cultura pop? Um anime/mangá live-action?  Um filme de ação com belas mulhers, como os trailers mostraram? A união de dois filmes de sucesso de dois diferentes e geniais diretores (falarei quem são eles no final da crítica)? A única resposta a todas essas perguntas é: um filme muito mais profundo do que parece ser. Antes de começarmos nossa viagem ao "Mundo Surreal", aviso que encherei o texto de Spoilers como forma de evitar novas manifestações injustas acerca do filme e para esclarecer possíveis dúvidas sobre seu enredo.
   O filme começa com um narrador desconhecido falando sobre anjos, as várias formas que eles podem assumir e como eles surgem do nada. Enquanto a voz nos elucida, vemos uma garota (Browning) em seu quarto, recebendo a notícia de que sua mãe acabara de falecer. Enquanto consolava sua irmã menor, um homem, o seu padrasto, abre o testamento da falecida e descobre que não receberia nada e, irritado, decide atácá-las. Nesse interim, a garota encontra sua arma e tenta matá-lo, porém acaba acidentalmente acertando sua jovem irmã. Ah, note-se que a ação dessa cena se desenvolve sem um único diálogo, fala ou narração: a música "Sweet Dreams", da banda Eurithymics e aqui cantada por Browning acaba por narrar os acontecimentos, um uso brilhante de metalinguagem.
Babydoll (Emily Browning), a protagonista
    Assim, a garota é levada para um hospício, onde descobre as verdadeiras pretensões de seu padrasto: ele subornou o responsável do mesmo (Isaac) para lobotomizá-la, o que só poderia ocorrer em 5 dias. A partir daí entramos na mente da garota. Ela imagina que está num bordel aonde tem que dançar para clientes e passa a ser chamada de Babydoll. Em cinco dias ela terá um encontro com o High Roller (Jon Hamm), com quem perderá sua virgindade e lá começa a pensar em formas de escapar. Assim, começa a amizade com quatro garotas: Blondie (Hudgens), Amber (Chung), e as irmãs Sweet Pea(Cornish) e Rocket (Malone); e tutelada pela cafetina e professora de dança Madame Gorsky (Gugino), que, na realidade é uma terapeuta que desenvolveu um método baseado na dramatugia para ajudar as crianças. Todos eles são comandados com mão de ferro pelo pervertido gigolô Blue, que é ninguém menos que o responsável pelo sanatório.
    Babydoll foi, então, obrigada a dançar. Porém algo de incrível acontecia enquanto ela fazia sua performance: os outros personagens ficam misticamente seduzidos pela dança; e o espectador é lançado para um templo budista coberto de neve no Japão feudal, aonde ela (vestida com uma fetichista roupa de colegial) encontra-se com um sábio (Glenn), que lhe diz quais items deve achar para sair de sua prisão: um mapa, fogo, uma faca, uma chave e um quinto item, um ideal misterioso; e depois fala para ela se defender. Aparecem então três samurais gigantescos armados até os dentes e começa uma cena fantástica de quebra pau, em que Babydoll derrota os três e ao final, volta ao bordel, como se tivesse apenas terminado de fazer aquilo que foi mandada.
Rocket (Jenna Malone), Sweet Pea (Abbie Cornish) e Blondie (Vanesse Hudgens), caracterizadas como dançarinas de bordel
   Assim, ela se alia com suas novas companheiras e elabora planos objetivando roubar os items citados pelo sábio no bordel. Ela, então, dançaria, destraindo os capangas de Blue, enquanto que as outras partiriam em busca pelos items. E, como da outra vez, não vemos a ação se desenrolar no bordel: somos lançados em três alucinações que equivalem a cada busca pelos items: o mapa estaria sobre a posse de soldados alemães zumbis em um cenário de I Guerra Mundial; o fogo estaria num Mundo Medieval com orcs e dragões e a faca seria, na verdade uma bomba, na posse de robos assassinos em um planeta distante. Porém, os planos não saem como planejado na última fantasia e Rocket acaba sendo morta no mundo surreal, pela bomba, e no bordel, pelo cozinheiro. Além disso, Blue, que já estava desconfiado da trama acaba confirmando o que pensava através da delação de Blondie. 
   Após aprisionar Sweet Pea, Blue vai de encontro às garotas. Começa então um poderoso monólogo, em que explica para o resto das dançarinas o que vinha se sucedendo bem debaixo de seu nariz e o quão impossível de se concretizar era o plano; matando, por fim, Blondie e Amber. Quando foi ter com Babydoll, a sós, decidiu estuprá-la, cometendo assim um erro crasso: as garotas haviam conseguido roubar a faca do cozinheiro, e Baby fez muito bem o seu uso, obtendo, posteriormente a chave. Assim, após resgatar Sweet Pea, consegui, fazendo uso dos items, fugir do bordel. Mas, entre a sáida do prédio e o portão haviam muitos guardas. Assim, Babydoll percebe qual era o quinto item: o auto-sacrifício. A fuga de ma delas já seria uma vitória: e Sweet Pea tinha uma família para encontrar, uma mensagem de Rocket para a mesma e perspectiva de futuro.
   Assim voltamos a realidade do hospício. Babydoll acaba sendo lobotomizada e o Madame Gorsky acaba por descobrir que Blue falsificou sua assinatira para que isso ocorresse, além de nos revelar que tudo que aconteceu no bordel aconteceu no hospício. Com isso, ele acaba preso, porém o mal já estava feito. Voltamos a ouvir, então, a narrativa. Mas, peraí, de quem? Babydoll estava lobotomizada, sem capacidade de raciocínio e de lembrar de nada que se sucedeu? Como ela pode nos contar algo do qual não tem mais noção, como ela pode terminar o que começou? Aí está, caro leitor, a grande surpresa do filme, o que o diferencia dos demais!

Aqui quem não viu o filme e queira curtí-lo, PODE PARAR.

  O bordel e o mundo surreal NÃO eram produtos da mente de Babydoll e sim de Sweet Pea, que é verdadeiramente louca . A narrativa continuou porque foi sempre ela quem nos contou a história, ela é que via Babydoll como seu anjo salvador, assim como o sábio: ele foi o motorista de ônibus que, durante a sua fuga, ajudou-a a escapar de policiais. Os dois seriam seus protetores que, num plano espirtual, retratado como um templo buudista, teriam se encontrado para realizar sua missão, salvá-la. Sim, ó leitor, agora surpreso, já que não entendeu o filme (ou que não entendeu meu recado acima), tudo é uma visão distorcida da realidade de Sweet Pea, e não um mero escapismo; ela realmente via o hospício como um bordel. E Snyder nos dá uma dicassa sobre isso no exato momento em que vemos o bordel pela primeira vez: quem começa a narrativa nesse plano é Sweet Pea, e não Babydoll. O mundo surreal é fruto de sua imaginação louca, uma forma romantizada de descrever como elas obtiveram os items.
   Assim, crê-se que Babydoll era a única lúcida no estabelecimento, o que a permitiu fazer conexões lógicas entre items que realmente existiam para elaborar seu plano de fuga, como uma sequência entre a sua chegada no hospício e o início da fantasia pode nos mostrar, uma espécie de resumão de sua estória. A partir desse momento, sua visão é substituida pela de Sweet Pea e só é retomada nos fatos que sucederam a fuga dessa última, já que ela não fazia idéia do que aconteceu (na sua mente Baby tinha perdido a virgindade para o High Roller). E o sacrifíco? Como não se sabe se a história contada por Sweet Pea sobre sua família era verdade, muito menos se existiam laços de sangue entre ela e Rocket, o mais lógico de supor é que a situação descrita realmente aconteceu e Babydoll percebeu que não conseguiria, se fugisse, colocar seu padrasto atrás das grades, já que seria foragida e considerada louca; sendo melhor a outra garota fugir. Além disso, ela sabia da mutreta feita entre ele e Blue e da falsificação da assinatura. Então, se sofresse a lobotomia, lograria provar o plano de seu padrasto para ficar com a herença. Um plot twist brilhantemente construído sobre detalhes.

AQUI QUEM NÃO VIU O FILME PODE VOLTAR A LER

 O roteiro, além de apresentar esse brilhante plot twist, foi desenvolvido em camadas, onde o mundo surreal faz parte do bordel, uma situação de semi-realidade; sendo este finalmente envolvido pela realidade. Ou seja, tudo que ocorre em uma camada influencia na outra, há uma conexão entre elas, estão distrubuídas em círculos concêntricos. Ao mostrar-nos apenas o mundo surreal e, por vezes, seus resultados no bordel, Snyder cria uma coisa que poucos conseguem, um diálogo com o espectador: fica à cargo da imaginação de cada um como se sucederam as ações das personagens no hospício, assim como seus destinos. O mesmo se aplica a mística dança de Babydoll e o que era ela no mundo real. A trama, no entanto é bastante linear, configurando a chamada "Jornada do Heroí": Babydoll é uma jovem guerreira despreparada (primeira ida ao mundo surreal) que ganha experiência em seus embates (as demais idas), tem encontros com seu mestre (o sábio), passa por privações ( a morte de suas amigas) e que, finalmente tem uma revelação: seu verdadeiro motivo para lutar é o altruísmo, o dar sua vida para o outro viver, o sentimento que a orientou a passar por aquilo tudo (quem leu Harry Potter, vai entender muito bem). É um recurso de roteiro encontrado facilmente nas várias mídias e artes, pode ser até considerado clichê. Eu o considero clássico.
Um dos grandes destaques do filme é a direção de arte.
   Quanto à parte técnica, perfeita. Giros de câmera que dão dinamismo aos diálogos, montagem super bem-feita, fotografia espetacular, seja para mostrar o quão fria é a realidade, o quão opulenta e a semi-realidade e o quão espetacular é o mundo surreal. Os efeitos especiais são bem empregados e o uso da câmera lenta, marca registrada de Snyder, é usada a exaustão, tornando mais interessantes e intensos os embates do filme. A direção de arte é igualmente excelente: cenários trabalhados com esmero e com detalhes deliciosos de se ver; figuinos muito bem-feitos e que potencializam a sensualidade do belo elenco feminino. Sem contar na ótima trilha sonora, marcada por releituras de canções antigas com participação do elenco do filme, e que é usada magistralmente como elemento de roteiro: são elas que catalisam as idas ao mundo surreal.
   Porém nem tudo são flores no mundo surreal. O roteiro é bem feito, mas não permitiu desenvolver muito bem as tramas paralelas: o relacionamento de Gorsky com Blue, de Rocket com Sweet Pea e as origens de Amber e Blondie, totatalmente negligenciadas. Os diálogos ora tem importância para mostrar a conexão das camadas, mas, em sua imensa maioria são pobres. Além disso, impossibilitou que o elenco desenvolvesse bem seus personagens, muito simples e sem profundidade. O elenco feminino principal tem atuações básicas que não apresentam nada de novo, sendo a melhor a desempenhada por Abbie Cornish (Brilho de uma Paixão), por motivos óbvios ( a de Vanessa Hudgens, ex High School Musical, beira o ridículo), Jon Hamm ( da série Mad Men) praticamente entra mudo e sai calado. Scott Glenn (Silverado) desempenha aquilo a que foi demandado. As melhores foram de Carla Gugino (Sin City) e Oscar Isaac (Robin Hood- 2010): a primeira rouba a cena com uma personagem que, pelo roteiro, deveria ser totalmente apagada; o segundo, e melhor atuação do filme ao meu ver, transformou um vilão caricato e com tendências à inexpressividade em um déspota lascivo e que, assim como aquelas sobre quem exerce seu domínio, tem uma certa dose de insanidade.
Carla Gugino e Oscar Isaac são destaques no quesito atuação
  Assim, vimos o que resultou de uma mistura bem divertida entre Kill Bill e A Origem, como alguns disseram. Porém, Snyder, apesar da boa direção e do bom roteiro, apenas deu seus primeiros passos para alcançar Tarantino e Nolan. Isso levará tempo: ele precisa desenvolver novas histórias advindas de sua imaginação e nelas desenvolver melhor suas tramas e diálogos, seguindo especialmente os passos do primeiro diretor citado, assim como os personagens, coisa que os dois fazem muito bem; dando espaço para que seu elenco trabalhe. De resto, só tenho que dar uma cutucada naqueles que disseram que o filme é pouco inteligente, mero espetáculo visual, referências nerds atiradas a esmo; e chegaram ao ponto de fazer ridículas comparações com a Saga Crepúsculo. O filme não deixa de ser um pipocão, mas é de qualidade, sai da mesmice do gênero e é visualmente perfeito. Muitos não entenderam a profundidade do roteiro analisado, e simplesmente o consideram ruim por não estarem preparados (parafraseando a boa tagline) para perceber o que Snyder nos apresentou em seu melhor trabalho. Qualquer um tem as "armas" necessárias para compreender o que viu, só precisa usá-las.

QUESITOS:
Atuações: 5
Roteiro: 8
Técnica(fotografia e edição): 10
Trilha Sonora: 10
Direção de Arte (cenários, figurinos, maquiagem,etc...): 10
Direção: 10

NOTA FINAL- 9

PS- Antes que alguém pergunte, a mais bela e gostosa das garotas é a Sweet Pea! Se o filme fosse em 3D os peitos dela saltariam para fora da tela. Sem contar que ela tem pernas maravilhosas!

PS.1- Vanessa Hudgens ainda não se redmiu de seu passado terrível. Além de sua atuação ser a pior de longe do filme, sua personagem foi a  X-9. HAUHAUHA